sexta-feira, 16 de julho de 2010

Uma Primavera inesquecível em Genebra 2



Cecília e eu nos abraçamos como se nos conhecêssemos a vida toda. Cumprimentei seus pequenos, três meninos e uma menina. Todos lindos, todos simpáticos. Era segunda-feira. Ficaria uma semana no país e no domingo iria a Fribourg buscar meu irmão.

Todas as manhãs eu saía com elas para Genebra. Deixava-as no consulado e, com um mapa, explorava a cidade. Comprava um chocolate para lutar contra o frio e caminhava pelas ruas daquela cidade de boneca. Ao meio-dia, estava de volta à frente do consulado e íamos almoçar num restaurante. Elas voltavam duas horas e eu continuava meu périplo pela cidade. Às seis, estava eu de novo na frente do consulado esperando pelas duas irmãs. Cecília voltava para os seus filhos em casa e Cínthia ia me mostrar a noite genebrina. Jantávamos juntos toda noite em algum bar ou café. Dividimos momentos inesquecíveis naqueles dias.

No sábado, recebi um convite para lá de especial. O filho mais velho de Cecília, de 9 anos, veio formalmente e me disse que ele e os irmãos gostariam de oferecer a mim um jantar de despedida. Feito por eles mesmos! Admirado, agradeci a gentileza e ficamos em casa à noite. Eles fizeram fondue de queijo e carne, acompanhado de molhos deliciosos. Para beber: champanhas sem álcool, pois as crianças também queriam brindar.

Foi uma graça ver aqueles pequenos, eufóricos, preparando um jantar em minha homenagem. Eu ainda não tinha me dado conta, mas a minha presença para eles havia movimentado seus dias, trazendo um ingrediente de novidade. Não pude deixar de me emocionar com todo aquele carinho.

No dia seguinte, Cecília e eu partimos para Fribourg. No hospital, havia um aviso num quadro que tal dia o “irmão de Monsieur ‘Silverrá’ viria buscá-lo”. Meu irmão entrou e, ao me ver, abriu um largo sorriso de alívio e me abraçou.

- Você está bem? – perguntei.

- Sim, mas me tire daqui!

Fomos direto para o aeroporto. Lá, Cínthia e as crianças nos esperavam. Beijei e abracei a todos.

- Obrigado! – disse eu abraçando e beijando Cecília. – Nunca vou esquecer você.
Abracei Cínthia e a beijei no rosto várias vezes.

- Vou sentir sua falta – ela disse. – O que vou fazer todos esses dias sem você? Como vou andar nos mesmos lugares sem você?

Respondi com um forte abraço e um sussurro em seu ouvido:

- Vou sentir muita saudade!

Passei pela imigração. Voltei até o vidro que nos separava e beijei seu rosto sobre ele. Desci a escada rolante batendo no peito com um gesto no coração para eles.

Nunca mais nos vimos. Por uma falta de zelo imperdoável, perdemos contato. Soube que elas deixaram o consulado e, após muitas tentativas de minha parte, o Itamaraty e nem mesmo o consulado conseguiram me dar o paradeiro de Cecília. Eu também me mudei, perdi endereços e telefones.

Anos depois, meu primeiro livro ganhou um prêmio da Academia Cearense de Letras como melhor romance. No ano seguinte ele foi publicado e em seguida fui convidado pelo Programa do Jô para uma entrevista. Torci para que uma delas ou os meninos me vissem e entrassem em contato comigo, mas acho que nunca viram.

À noite, olhando São Paulo lá embaixo pela janela do hotel, me lembrei delas e, desejei, no íntimo, que estivessem bem e felizes. Eu segurava Muito Além da Neblina, meu livro que tinha ido divulgar. Na página anterior ao primeiro capítulo estava escrito:

Para Cíntia e Cecília Oliveira*. Lembrança de uma primavera inesquecível em Genebra, ao som dos violinos.

*Por incrível que pareça, ontem encontrei uma carta de Cínthia entre minhas correspondências. Percebi então meu erro na dedicatória do livro. Cínthia assinava o remetente com o sobrenome Santos, e não Oliveira como pensei. Concluí que Cecília deveria usar ainda o nome de casada, ou então o nome materno ou paterno, que não fosse Santos. Também Cínthia tinha um H no meio, o que corrigi no blog, mas impossível na primeira edição do livro. De qualquer forma, acredito que valeu a homenagem sincera, mas que será corrigida na segunda edição: Para Cínthia Santos e Cecília Oliveira...

2 comentários:

  1. Nossa!!!..que linda história!!...estou agora torcendo para Cíntia e Cecília encontrar vc através do seu livro...que pena q perderam o contato...bjs

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  2. Verdade, Juliana, mas infelizmente o livro já está praticamente com a primeira edição esgotada e, se elas não me viram no Programa do Jô, nem consegui encontrar nenhuma delas no Orkut, deixarei com Deus. Quem sabe um dia eu teria a alegria de reencontrá-las novamente.

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