segunda-feira, 26 de julho de 2010
Centro pirata 2
É, parece que a pirataria é um grito de guerra daqueles que buscam acesso a produtos de comprovada qualidade. Mas se é impossível, então fazem de conta que pertencem ao grupo que usa bonés, camisas, relógios e perfumes de grife. Não importa se não é,
importa se parece que é - é a máxima da pirataria.
DVDs pelo chão das calçadas de filmes recém-lançados (e até aqueles que nem chegaram ainda ao mercado) fazem lama. Esse é o tipo de pirataria que não consigo comprar. Nenhum sequer, nem olho para eles. É como se eles fossem a cereja do bolo de algo que não deveria acontecer: a aquiescência de todos nós.
Com a internet também, creio que a aceitação dessa cultura pirata não tem mais como acabar. Ao contrário, acredito que esteja ainda no começo. O Centro de Fortaleza nem se compara à famosa 25 de Março em São Paulo. Aquilo sim é a Meca das falsificações. E de qualidade. Na verdade, o Brasil inteiro está falsificado. Políticos falsos, dinheiro falso, promessas falsas...
No caso dos produtos (e por que não dos políticos também?), as falsificações estão chegando num estágio de qualidade tal que fica difícil saber qual é o original. Até pessoas de bom poder aquisitivo se renderam às falsificações, é como se dessem uma banana para as grandes corporações: Aqui pra vocês!
Fiz um pit stop na Leão do Sul para almoçar, sem dúvida os melhores pastéis de carne e caldo de cana da cidade. Originais. Em frente, fica a Lindalva, o melhor acarajé de Fortaleza, mas ela só chega no fim da tarde, o que me facilitou a escolha. Comi e continuei minhas andanças. Fiquei quatro horas e meia no Centro.
Um ambulante me ofereceu uns óculos Ray Ban de lente antirriscos impressionantes. As lentes verdes eram feitas de cristal safira. Ele pegou uma chave e riscou a lente, nem sequer um arranhão ficou! Trinta reais!... Declinei, com o dinheiro se mexendo no bolso, querendo pular pra mão do homem. Saí correndo.
Difícil, muito difícil ir ao Centro e não acabar comprando alguma coisa falsificada. Elas estão em todos os lugares. Aviso aos navegantes: não é muito seguro andar por aquelas ruas cheios de sacolas, seja de produtos originais ou não. Um delinquente me viu e redirecionou seu curso para me abordar.
- Me dá uma grana pra completar meu almoço! – pediu ele.
Eu daria na hora, mas não ia cometer a tolice de tirar a carteira diante daquele sujeito nitidamente pronto para roubar o que eu carregava.
- Tenho não – disse seguindo em frente.
Ele não se deu por vencido e me ladeou me acompanhando e insistindo. Olhando-o apenas com a visão periférica, falei baixo, mas firme:
- Não me segue, cara!
Ele se desviou imediatamente. Percebeu que eu o identifiquei e que falava sério, não ia querer nada comigo.
Sim, o Centro é muito divertido, não há dúvidas. Mas tem que ter espírito aventureiro.
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