segunda-feira, 26 de julho de 2010

Centro pirata 3


Creio que vivemos uma crise do valor. Quanto custa realmente uma simples camisa de marca? Uma camisa polo Lacoste custar R$ 180 com jacaré verde, R$ 190 com jacaré branco e uns R$ 210 com jacaré prata nada mais é que um valor imaterial. Ninguém que paga um valor desses numa mera camisa está pagando pela camisa, pois esta não passaria de uns vinte reais, está pagando pela grife.

Alguém realmente acredita que a cor do jacaré Lacoste vale isso?

De certa forma, se poderia argumentar que o valor dessa camisa de grife original é falso. Na ponta do lápis, seus custos não dariam esse preço, mas os produtos têm o valor que damos a eles, compra quem quer. É o simples valor da oferta e da procura.
Eu comprava sempre um bom vinho argentino chamado Benjamin Nieto, e ainda compro. Eu o comprava a onze reais. Por causa de sua boa qualidade e rótulo atrativo, o que induz credibilidade, suas vendas cresceram. Em pouco tempo, ele saltou de onze para R$ 16,50! O capitalismo é assim.

Estamos cercados de falsidades até quando as coisas são originais: marca verdadeira, preço falso. Até o dinheiro não tem valor em si, nós é que concordamos de que uma determinada quantidade de dinheiro equivale a algo. Na China antiga (olha ela de novo!), o imperador ameaçou matar os camponeses se eles não aceitassem o novo sistema financeiro. Não entrava na cabeça deles vender uma carroça e receber em troca papel pintado.

A vida é injusta, o mundo é traiçoeiro, as corporações não dão à mínima para as pessoas, meras roupas têm preço de motos... Mas é a vaidade, a pose e o status que alimentam esse comércio cultural de frivolidades.

Obviamente, não estou incentivando a falsificação e a pirataria, de forma alguma. Mas as coisas não são tão simples assim.

Depois de comprar dois quadros (originais) de um artista da terra no Mercado Central, voltei para casa. Lá, me sentei no sofá, tomei um mate gelado e coloquei meu boné “Polo” no cabide e o “Hugo Boss” na geladeira. Ao comprá-los, acho que não contribuí com o aumento do PIB do País nem enriqueci ainda mais os detentores dessas marcas, mas, talvez, quem sabe, tenha contribuído com o pão de cada dia de algum outro milionário que não more em Paris, Milão ou Nova York.

2 comentários:

  1. GERMANO!Pensei que estivesse se recuperando da cirurgia...Sim,eu acho que hoje todos os "Centros" das cidades estão como vc falou.Aqui em Teresina não é tão diferente,quiçá igual.Mas... 1 é pouco,2 é bom e...3 é demais(entendeu).Um grande abraço da Sil!

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