terça-feira, 20 de julho de 2010
O Céu não é de bronze 2
Quando eu retornava ao Brasil com meu irmão, vindo da Suíça, fizemos uma escala em Lisboa.
O valor de nossas passagens deu tão alto que meu irmão teve direito a um voucher, um vale, um comprovante que lhe dava direito ao pernoite gratuito no hotel.
Assim que chegamos ao aeroporto, corremos ao balcão da Varig para confirmar a hospedagem do meu irmão. O balcão estava fechado.
Fomos direto para o Hotel Roma e fizemos o check-in. Contudo, não havia nenhuma reserva para o meu irmão. O recepcionista ligou para a Varig e eles negaram, sem nenhuma explicação plausível, aquele direito do meu irmão. Além de minha parte, tive que desembolsar 120 dólares pela sua hospedagem.
Aquilo partiu meu coração! Vivíamos, na época, uma inflação galopante no Brasil e, para empreender aquela viagem, minha mãe raspara suas economias no Banco. Naquele período, voos internacionais eram muito caros e eu fiz de tudo para voltar ainda com algum dinheiro para ela. E eram, justamente, aqueles 120 dólares que eu havia conseguido economizar na viagem que eu tencionava levar de volta para minha mãe!
Cedo da manhã, antes de pegar o avião, fui ao balcão da Varig e expus a situação. Um funcionário grisalho me ouviu atentamente e admitiu que realmente tinha havido um erro.
- Que bom que estamos nos entendendo – disse eu. – Espero aqui mesmo?
- Espera o quê? – estranhou ele.
- O dinheiro!
- Que dinheiro? – ele continuou sem entender. Eu repliquei:
- Ora, o dinheiro da hospedagem do meu irmão que paguei ontem indevidamente!
- Espere aí – falou o funcionário, pausadamente - , você está querendo os 120 dólares de volta?
- Sim!
Ele meneou a cabeça.
- Infelizmente, não há precedente na Varig para esse tipo de restituição – sentenciou. – Sei que pagou indevidamente, mas não há nada que eu possa fazer.
Mal pude acreditar.
Nesse momento, chegou o gerente, me cumprimentou com um aceno de cabeça e entrou numa sala.
- Quem é? – perguntei.
- O gerente. Espere, me dê seu passaporte e o documento que vou expor seu caso pra ele.
Ele foi e dentro de poucos minutos voltou.
- Como lhe disse – falou ele –não há nada a fazer. Sinto muito.
Apático, tomei o passaporte e o documento de volta. Me baixei para pegar a alça da mochila e parei. Ali, no íntimo, suspirei profundamente a Deus: “Oh, Senhor! Eu queria tanto levar esse dinheiro para minha mãe!”
Coloquei a alça no ombro. Quando dei o primeiro passo para sair, a porta da sala se abriu e o gerente apareceu.
- Poderia me arranjar de novo os documentos? – pediu ele.
Sem dizer nada, coloquei a mochila de volta no chão e dei ao funcionário os documentos. Ele levou até ao gerente e entrou com ele na sala.
Fiquei em profundo silêncio, apenas observando os acontecimentos.
A porta se abriu novamente e o funcionário veio andando com os olhos baixos e balançando a cabeça levemente. Ele parou na minha frente e me disse olhando nos meus olhos:
- Olhe, eu trabalho na Varig há 18 anos e já vi casos como o seu aos montes. E nunca, durante todo esse tempo, vi a Varig devolver dinheiro a ninguém. Não sei o que aconteceu. Aqui está o seu dinheiro.
Ele estava incrédulo.
Meus olhos brilharam e um sorriso de alegria se estampou no meu rosto. O homem colocou os escudos em minha mão. Eu o agradeci e fui direto ao câmbio. Os 120 dólares estavam de volta ao meu bolso!
Respirei fundo e agradeci:
- Obrigado, Senhor!
Como Ezequias, apenas um suspiro, uma oração, um lamento sincero moveu o coração de Deus!
Horas depois, eu depositava os dólares nas mãos de minha mãe. E senti o alívio em seu rosto.
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