sexta-feira, 28 de maio de 2010

Uma noite na Clínica do Sono 2


O resultado do exame foi um horror! Estava com sobrepeso e trinta micro despertares por hora, quando o aceitável é dez! Sono superficial, ronco forte e apneia leve. Meu cansaço durante o dia estava explicado! Pelo menos nenhum problema neurológico. Mas, disse a otorrino, esses despertares estão demais! Fizemos uma laringoscopia e ela viu alguma acidez na laringe. Acho que você tem refluxo, é ele que desperta você. Fui fazer uma endoscopia. A enfermeira me aplicou a anestesia. Eu ainda falava com o médico: “Ah, vi você ontem no...” Fade out! Tive um leve despertar durante o exame, com um negócio duro batendo nos meus dentes, quando percebi que era aço, fiquei tranquilo e apaguei de novo. Foi feita uma biópcia e o resultado foi realmente refluxo e uma bactéria chamada H. Pylori, para os íntimos, e Helicobacter Pylori para convidados. Dizem que todo mundo tem essa mardita. Bom, mas como eu não quero ser todo mundo, fiz um tratamento de três meses com omeprazol e outras guloseimas coloridas. Refrigerante, álcool e comida pesada à noite nem pensar! Tive que abrir mão do vinhozinho de cada dia e da cervejinha do fim de semana durante o tratamento. Voltei a malhar para emagrecer, mas havia algo mais a fazer: a laringoscopia identificou um desvio severo de septo. Você não sabe o que é respirar, Germano, disse a otorrino com gravidade. A cirurgia era inevitável se eu quisesse viver bem, pois com a idade iria piorar o ronco. E, com o pouco oxigênio no cérebro e as paradas respiratórias, poderiam causar lesão cerebral, como perda de memória. De fato, já vinha me achando muito esquecido ultimamente..... Sim, mas, onde estava mesmo?.... Ah, claro!... O tratamento deu certo, a bactéria morreu e eu tive um grande alívio no sono. Nunca vou esquecer o efeito do remédio sobre o refluxo. Ao fechar os olhos numa noite, dormi. Quando abri no dia seguinte, estava na mesma posição, não tinha nem me mexido durante à noite! Quase chorei de alegria! O dia foi incrível, disposto, forte, atento, cheio de vida! Mas ainda falta a cirurgia, não há como fugir dela. Estou agilizando para julho. Bem, mas como será, já que sou solteiro, não estou namorando, não tenho mais família aqui e nem amiga disponível para me acompanhar durante e depois da cirurgia? Bem, esse remédio não sei onde comprar. O negócio é respirar fundo e fazer o que tem que ser feito, com ou sem acompanhante. Respirar fundo? Vixe, a médica disse que não sei respirar.

Uma noite na Clínica do Sono 1


Minha irmã veio passar alguns dias de férias na minha casa. Moro atualmente num pequeno apartamento de dois pisos: você pisa uma vez para entrar e outra para sair!

Com tal largueza de espaço, ela teve que dormir no meu quarto. Nos três dias seguintes, sempre que acordava, ela já estava de pé e com a cara amassada. Nos dois primeiros dias ela disse que tinha acordado cedo, mas no terceiro ela confessou que não estava conseguindo dormir porque eu ronco. Eu ronco?!, exclamei. E muito!, enfatizou ela. Com parada respiratória e tudo! Fiquei horrorizado. Mas eu já vinha, na verdade, achando estranho o número de vezes que acordava durante a noite e o sono que tinha durante o dia, atrapalhando até meu trabalho. Não contei pipoca: fiz uma consulta num neurologista e parti para dormir uma noite numa clínica de estudos do sono.

Lá se foi eu. Antes de entrar no quarto, me admirei com o número de mulheres na clínica. A enfermeira me informou que a presença de mulher naquele exame está igual a do homem. A dormida é péssima. Enchem você de fios em todo o lugar: cabeça, pescoço, nariz, peito, barriga, pernas, dedo, quase tudo! Ainda bem que pararam por aí! Fio-terra nem pensar! Mas foi por pouco!..

É uma suíte básica com ar-condicionado e uma câmera de infravermelho apontada para você o tempo inteiro. Quando a enfermeira começou a me preparar para aquilo que parecia um ritual de eletrocução, perguntei em que momento ela ia virar a chave! O oxímetro fica no dedo indicador. Quando a luz do quarto se apaga você vira o ET, com a ponta do dedo vermelha iluminando pra onde aponta, pelo menos ajuda a distinguir os números do telefone ao lado e ver as horas se arrastando. Pois dormir que é bom, nada!

A enfermeira se manda e você fica sozinho naquele quarto artificial feito um robô, meio biônico, com a cabeça cheia de gel-cola com eletrodos e, aí, vem a frase sadoirônica da enfermeira que, tenho certeza, embora não tenha visto, seguida de um risinho no canto da boca: “Boa noite, durma bem”. Sei.

Você olha o relógio: 23h, e uma loooooooonga noite à sua frente. O drama não é dormir mal, o drama é NÃO dormir! Já imaginou? Depois de todo aquele trabalho não conseguir dormir! Pois quase isso aconteceu. Por várias vezes pensei em desistir, arrancar tudo aquilo e cair fora. Tive um começo de claustrofobia e liguei para a plantonista dizendo que estava desistindo, ela me aconselhou a aguentar pois eu teria que voltar outra noite se desistisse agora. Outra noite não!, suspirei. Controlei a agonia e, graças a Deus, consegui ir até o fim, dormi (mal, claro) e valeu o exame. O resultado sairia em 15 dias.

Encontrei de manhã no corredor uma senhora rosada e bem gordinha se assoando. Tadinha, pensei, deve roncar feito uma porquinha cevada sendo estripada pela garganta, mas vai ficar boa, acredito. Espero que eu também.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Sobre o suicídio de Hemingway, London e Marcelo


Sempre me perguntei por que pessoas fascinantes, cheias de vida, aventureiras, românticas e sonhadoras se matam. É extremamente desconcertante. Dois escritores importantes, Ernest Hemingway e Jack London puseram fim à própria vida após uma existência repleta de aventuras. Decidi abordar também o tema suicídio no meu romance Muito Além da Neblina, porque perdi um primo muito querido nessas condições. Na noite em que ele se matou, parei à porta de minha casa ao me lembrar repentinamente dele. Pensei em voltar para ligar para ele em Brasília. Mas como estava atrasado ao meu compromisso àquela noite, decidi lhe telefonar um outro dia, “amanhã”, pensei saindo. Mas não houve amanhã.

Sua morte me abalou profundamente. Até então, nunca havia sofrido perda tão grande, de alguém tão querido. É uma dor imensurável. Enquanto escrevia o livro, fui tirando algumas conclusões sobre o suicídio. Quando terminei de ler Caninos Brancos, de Jack London, fiquei revoltado ao ver na última página que ele se matara. Através de Marcelo Coqueiro, protagonista do meu romance, pude expor algumas idéias sobre o assunto e concluir que o suicídio é uma fuga. Seria possível uma vida inteira ser julgada apenas por um único momento de angústia desesperadora? Algo ficara claro para mim: ninguém procura conscientemente a própria destruição, mas a fuga. Não me esqueci também que há o demônio, ele tentou convencer Cristo a se suicidar e é homicida desde o princípio.

Ao escrever sobre Hemingway, refleti sobre sua vida gloriosa, aventureira, boêmia, repleta de viagens e conquistas que tivera; laureado com diversos prêmios, distinguindo inclusive com o Nobel de Literatura... E concluí: Hemingway não era Hemingway no momento do suicídio, assim como London não era London nem Marcelo, meu primo era Marcelo. Jamais devemos culpar um suicida, mas se encher de misericórdia por ele. Pois não estamos isentos de sentir essa tentação terrível em nossa vida.

Quanto a mim, acredito que a única forma de se livrar dessas tragédias pessoais é andar com Deus e amar as pessoas que nos amam. Um dos pensamentos frequentes dos parentes de suicida é: "Ele não pensou em mim. Minha amizade não lhe era suficiente." Mas naquele momento fatídico ele não pensava, a angústia o sufocava. Ele era só angústia e terror.

O protagonista de meu livro tem o nome do meu primo e ele também tenta se matar. Mas eu lhe dei um outro destino. Não à morte, mas viva a Vida!

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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Um redator publicitário que é escritor


Começo a escrever aqui todas as crônicas individuais do dia a dia da minha vida, seja no campo pessoal ou como profissional. Abro este espaço para falar de certezas frustradas, fracassos anunciados, vitórias inesperadas, corações sequelados pelas paixões, tristezas e alegrias que compõem a vida de um ser humano. Sim, sou um ser humano. Pelo menos foi isso que me ensinaram. Assim, essa grande aventura de ser ou se tornar um ser humano, pois tem gente que diz que é, mas age como se não fosse, está nas pequenas grandes coisas do cotidiano.

Desde cedo descobri que seria um escritor, aos dez anos, quando li pela primeira vez um livro dito adulto, o romance O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway. Acostumado com livros infantis cheios de ilustrações, fiquei impressionado que apenas palavras me fizessem "ver" a história e considerei uma grande arte escrever daquela forma. Esse fascínio me levou a querer ser escritor anos depois. Mas como, infelizmente, não posso ainda realizar o sonho de viver de literatura, me tornei, por necessidade - mais de escrever do que de comer - redator publicitário. Não conseguia me imaginar ganhando a vida de outra forma. Entrei na faculdade de Letras para aprender a escrever. Logo, minha ignorância foi revelada: Letras ensina a ser professor de línguas, não a ser escritor! Mas não foi em vão, foram grandes anos aqueles! Da necessidade de escrever, acabei encontrando o prazer na redação publicitária. Um exercício incrível de criatividade diária.

Assim, sou um redator publicado semanalmente, enquanto sigo como um escritor com apenas um romance publicado debaixo do braço e alguns poucos exemplares de uma edição quase esgotada nas livrarias. O redator continua ganhando do escritor. Até quando?... Bem, aqui falarei em literatura, publicidade, culinária, religião, política, amor e, pode ter certeza, tudo com muita sinceridade! Bem-vindo ao meu blog (se é que alguém vai perder seu tempo lendo este blog!), pode entrar, a página é sua.