sexta-feira, 28 de maio de 2010

Uma noite na Clínica do Sono 1


Minha irmã veio passar alguns dias de férias na minha casa. Moro atualmente num pequeno apartamento de dois pisos: você pisa uma vez para entrar e outra para sair!

Com tal largueza de espaço, ela teve que dormir no meu quarto. Nos três dias seguintes, sempre que acordava, ela já estava de pé e com a cara amassada. Nos dois primeiros dias ela disse que tinha acordado cedo, mas no terceiro ela confessou que não estava conseguindo dormir porque eu ronco. Eu ronco?!, exclamei. E muito!, enfatizou ela. Com parada respiratória e tudo! Fiquei horrorizado. Mas eu já vinha, na verdade, achando estranho o número de vezes que acordava durante a noite e o sono que tinha durante o dia, atrapalhando até meu trabalho. Não contei pipoca: fiz uma consulta num neurologista e parti para dormir uma noite numa clínica de estudos do sono.

Lá se foi eu. Antes de entrar no quarto, me admirei com o número de mulheres na clínica. A enfermeira me informou que a presença de mulher naquele exame está igual a do homem. A dormida é péssima. Enchem você de fios em todo o lugar: cabeça, pescoço, nariz, peito, barriga, pernas, dedo, quase tudo! Ainda bem que pararam por aí! Fio-terra nem pensar! Mas foi por pouco!..

É uma suíte básica com ar-condicionado e uma câmera de infravermelho apontada para você o tempo inteiro. Quando a enfermeira começou a me preparar para aquilo que parecia um ritual de eletrocução, perguntei em que momento ela ia virar a chave! O oxímetro fica no dedo indicador. Quando a luz do quarto se apaga você vira o ET, com a ponta do dedo vermelha iluminando pra onde aponta, pelo menos ajuda a distinguir os números do telefone ao lado e ver as horas se arrastando. Pois dormir que é bom, nada!

A enfermeira se manda e você fica sozinho naquele quarto artificial feito um robô, meio biônico, com a cabeça cheia de gel-cola com eletrodos e, aí, vem a frase sadoirônica da enfermeira que, tenho certeza, embora não tenha visto, seguida de um risinho no canto da boca: “Boa noite, durma bem”. Sei.

Você olha o relógio: 23h, e uma loooooooonga noite à sua frente. O drama não é dormir mal, o drama é NÃO dormir! Já imaginou? Depois de todo aquele trabalho não conseguir dormir! Pois quase isso aconteceu. Por várias vezes pensei em desistir, arrancar tudo aquilo e cair fora. Tive um começo de claustrofobia e liguei para a plantonista dizendo que estava desistindo, ela me aconselhou a aguentar pois eu teria que voltar outra noite se desistisse agora. Outra noite não!, suspirei. Controlei a agonia e, graças a Deus, consegui ir até o fim, dormi (mal, claro) e valeu o exame. O resultado sairia em 15 dias.

Encontrei de manhã no corredor uma senhora rosada e bem gordinha se assoando. Tadinha, pensei, deve roncar feito uma porquinha cevada sendo estripada pela garganta, mas vai ficar boa, acredito. Espero que eu também.

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