quinta-feira, 27 de maio de 2010

Sobre o suicídio de Hemingway, London e Marcelo


Sempre me perguntei por que pessoas fascinantes, cheias de vida, aventureiras, românticas e sonhadoras se matam. É extremamente desconcertante. Dois escritores importantes, Ernest Hemingway e Jack London puseram fim à própria vida após uma existência repleta de aventuras. Decidi abordar também o tema suicídio no meu romance Muito Além da Neblina, porque perdi um primo muito querido nessas condições. Na noite em que ele se matou, parei à porta de minha casa ao me lembrar repentinamente dele. Pensei em voltar para ligar para ele em Brasília. Mas como estava atrasado ao meu compromisso àquela noite, decidi lhe telefonar um outro dia, “amanhã”, pensei saindo. Mas não houve amanhã.

Sua morte me abalou profundamente. Até então, nunca havia sofrido perda tão grande, de alguém tão querido. É uma dor imensurável. Enquanto escrevia o livro, fui tirando algumas conclusões sobre o suicídio. Quando terminei de ler Caninos Brancos, de Jack London, fiquei revoltado ao ver na última página que ele se matara. Através de Marcelo Coqueiro, protagonista do meu romance, pude expor algumas idéias sobre o assunto e concluir que o suicídio é uma fuga. Seria possível uma vida inteira ser julgada apenas por um único momento de angústia desesperadora? Algo ficara claro para mim: ninguém procura conscientemente a própria destruição, mas a fuga. Não me esqueci também que há o demônio, ele tentou convencer Cristo a se suicidar e é homicida desde o princípio.

Ao escrever sobre Hemingway, refleti sobre sua vida gloriosa, aventureira, boêmia, repleta de viagens e conquistas que tivera; laureado com diversos prêmios, distinguindo inclusive com o Nobel de Literatura... E concluí: Hemingway não era Hemingway no momento do suicídio, assim como London não era London nem Marcelo, meu primo era Marcelo. Jamais devemos culpar um suicida, mas se encher de misericórdia por ele. Pois não estamos isentos de sentir essa tentação terrível em nossa vida.

Quanto a mim, acredito que a única forma de se livrar dessas tragédias pessoais é andar com Deus e amar as pessoas que nos amam. Um dos pensamentos frequentes dos parentes de suicida é: "Ele não pensou em mim. Minha amizade não lhe era suficiente." Mas naquele momento fatídico ele não pensava, a angústia o sufocava. Ele era só angústia e terror.

O protagonista de meu livro tem o nome do meu primo e ele também tenta se matar. Mas eu lhe dei um outro destino. Não à morte, mas viva a Vida!

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