segunda-feira, 26 de julho de 2010
Centro pirata 1
Andar no Centro da cidade é uma experiência única. Acordei cedo, sábado pela manhã, e deixei a moto em casa. Tomei um ônibus e desci perto da Catedral. Por que ir ao Centro quando no bairro em que moro tem tudo o que preciso? Na verdade, nem tudo.
O Centro é uma babel de tipos e seres, ofertas e opções que dariam um estudo antropológico acadêmico. Não se trata das ruas maquiadas da zona nobre, no Centro os intestinos da cidade estão expostos em toda a sua virulência, desde a torpeza social à agradável brisa que vem do Atlântico sobre a Praça do Ferreira.
Não dá para ser indiferente ao Centro. Você consegue encontrar lojas e artigos de uma cafonalha só a produtos de alto nível. A diversidade de apelos é de uma cacofonia visual opressiva. Enquanto se caminha, pobres prostitutas oferecem seus serviços sexuais próximos a motéis de quinta categoria, verdadeiros munquifos;
“cachorras” em micro-shortes, equilibrando-se em saltos plataformas imensos, desfilavam suas coxas musculosas sob os assovios dos taxistas;
vendedores saem das lojas para buscarem você na calçada convidando-o às compras de produtos que não lhe interessam (os atendentes da praça de alimentação do Shopping Iguatemi fazem a mesma coisa, eles só faltam agarrar você pelo pescoço e lhe forçar a comer ali, os vendedores do Centro são mais discretos);
pedintes sem conta, meninos cheirando cola a céu aberto, dementes vagando pelas calçadas, descuidistas a postos, pregadores evangélicos aos berros, cantores gospel promovendo seus discos em caixas de som distorcidas, transeuntes apressados em calçadas estreitas, senhoras amedrontadas em passos lépidos abraçando as bolsas, mendigos imundos com cabelos emaranhados arrastando trapos inacreditavelmente sujos, camelôs suados ofertando de uma agulha a camisas com nome em inglês escrito errado...
É um espetáculo! Não há como se divertir e lamentar naquele mercado humano mambembe. Diante dos seus olhos desfila do cômico ao trágico.
Percorri a Barão do Rio Branco e vi que o McDonald’s de lá continua ativo e com filas. Não simpatizo com ele. À noite, ele joga no lixo quilos e quilos de alimentos do império ianque. Não doa para ninguém com receio de um exército de esfomeados se postar às suas portas no fim do expediente atrás de comida. É um pecado diário. Há muitas possibilidades de reencaminhar aqueles alimentos, mas eles não se importam.
Nessa minha visita ao Centro, tomei consciência de algo realmente assustador: a oficialização da pirataria. Quase tudo é falso! Parece que a China aportou seu navio de muambas no Mucuripe e despejou seus produtos aos montes nas ruas da cidade!
Entrei numa loja de produtos chineses em frente ao BNB que é tão cafona, com produtos tão falsificados que dão gastura! Saí de lá com uma mochila duvidosa, mas como estava precisando...
O Raimundo dos Bonés é o clássico de quem adora cobrir a cabeça com estilo. Tem pra todos os gostos. Bonés de 10, 12 a 20 reais: Polo, Addidas, Lacoste e o escambau! É uma loja conhecida, paga seus impostos e dá emprego. Não sou de ostentar marca, mas a qualidade do Polo era notável e seu preço, irresistível. Saí de lá com ele na cabeça...
Passei pelo Shopping dos Fabricantes, que uma amiga chama de “shopping dos falsificantes”. Não entrei, segui atrás de uns quadros para decorar meu apartamento, mas antes entrei na Fortaleza das Essências. Você chega e escolhe o cardápio com as essências dos melhores perfumes do mundo. Não sei como eles as conseguem, mas estavam lá Hugo Boss, Bvlgari, Ferrari, Essencial etc etc... Você compra a essência, mistura no álcool já com o fixador, coloca no vidro, balança, enrola num jornal e deixa no congelador por dez dias. Não estava precisando, mas levei um Hugo Boss por R$ 9,90...
E a culpa por comprar essas coisas? Estranho, não há muita. Será que nos tornamos cínicos? Ou será que a pirataria é uma forma de protesto, contestação e zombaria de marcas famosas bilionárias, que usam trabalho quase escravo dos países do terceiro mundo para ficarem ainda mais ricas, distribuindo migalhas aos seus funcionários?
Como pode um perfume custar 350 a 400 reais?! Como pode um tênis Asics, que comprei há um ano, custar 550 reais (e que em menos de um ano, sem eu correr com ele, furou a rede de proteção do pé esquerdo!)?
Como pode relógios esportivos custarem 200, 300 e 800 reais? Mesmo com mão de obra barata e incentivos fiscais eles não baixam os preços.
Nos tempos em que o Programa do Ratinho ainda dava o que falar, ele fez as contas de quanto um CD musical poderia chegar ao consumidor com um preço justo. O matemático convidado chegou ao preço de cinco reais. E, com esse valor, disse ele, a indústria fonográfica teria ainda ganhos milionários. Calcule então custando 35 reais!
O governo e a polícia, por sua vez, fazem vista grossa para o assunto. Parecem achar um fenômeno sem volta e inútil de combater, como enxugar gelo. Ora, parei diante da vitrine de uma loja do Shopping Lisbonense para ver a coleção de relógios esportes. A dona era uma chinesa, mal falava português. Se vacilasse, ela me passava até nota fiscal se eu levasse algum dos relógios. Que por sinal, eram muito bonitos. Resisti à tentação. Continuei meu caminho.
Centro pirata 2
É, parece que a pirataria é um grito de guerra daqueles que buscam acesso a produtos de comprovada qualidade. Mas se é impossível, então fazem de conta que pertencem ao grupo que usa bonés, camisas, relógios e perfumes de grife. Não importa se não é,
importa se parece que é - é a máxima da pirataria.
DVDs pelo chão das calçadas de filmes recém-lançados (e até aqueles que nem chegaram ainda ao mercado) fazem lama. Esse é o tipo de pirataria que não consigo comprar. Nenhum sequer, nem olho para eles. É como se eles fossem a cereja do bolo de algo que não deveria acontecer: a aquiescência de todos nós.
Com a internet também, creio que a aceitação dessa cultura pirata não tem mais como acabar. Ao contrário, acredito que esteja ainda no começo. O Centro de Fortaleza nem se compara à famosa 25 de Março em São Paulo. Aquilo sim é a Meca das falsificações. E de qualidade. Na verdade, o Brasil inteiro está falsificado. Políticos falsos, dinheiro falso, promessas falsas...
No caso dos produtos (e por que não dos políticos também?), as falsificações estão chegando num estágio de qualidade tal que fica difícil saber qual é o original. Até pessoas de bom poder aquisitivo se renderam às falsificações, é como se dessem uma banana para as grandes corporações: Aqui pra vocês!
Fiz um pit stop na Leão do Sul para almoçar, sem dúvida os melhores pastéis de carne e caldo de cana da cidade. Originais. Em frente, fica a Lindalva, o melhor acarajé de Fortaleza, mas ela só chega no fim da tarde, o que me facilitou a escolha. Comi e continuei minhas andanças. Fiquei quatro horas e meia no Centro.
Um ambulante me ofereceu uns óculos Ray Ban de lente antirriscos impressionantes. As lentes verdes eram feitas de cristal safira. Ele pegou uma chave e riscou a lente, nem sequer um arranhão ficou! Trinta reais!... Declinei, com o dinheiro se mexendo no bolso, querendo pular pra mão do homem. Saí correndo.
Difícil, muito difícil ir ao Centro e não acabar comprando alguma coisa falsificada. Elas estão em todos os lugares. Aviso aos navegantes: não é muito seguro andar por aquelas ruas cheios de sacolas, seja de produtos originais ou não. Um delinquente me viu e redirecionou seu curso para me abordar.
- Me dá uma grana pra completar meu almoço! – pediu ele.
Eu daria na hora, mas não ia cometer a tolice de tirar a carteira diante daquele sujeito nitidamente pronto para roubar o que eu carregava.
- Tenho não – disse seguindo em frente.
Ele não se deu por vencido e me ladeou me acompanhando e insistindo. Olhando-o apenas com a visão periférica, falei baixo, mas firme:
- Não me segue, cara!
Ele se desviou imediatamente. Percebeu que eu o identifiquei e que falava sério, não ia querer nada comigo.
Sim, o Centro é muito divertido, não há dúvidas. Mas tem que ter espírito aventureiro.
Centro pirata 3
Creio que vivemos uma crise do valor. Quanto custa realmente uma simples camisa de marca? Uma camisa polo Lacoste custar R$ 180 com jacaré verde, R$ 190 com jacaré branco e uns R$ 210 com jacaré prata nada mais é que um valor imaterial. Ninguém que paga um valor desses numa mera camisa está pagando pela camisa, pois esta não passaria de uns vinte reais, está pagando pela grife.
Alguém realmente acredita que a cor do jacaré Lacoste vale isso?
De certa forma, se poderia argumentar que o valor dessa camisa de grife original é falso. Na ponta do lápis, seus custos não dariam esse preço, mas os produtos têm o valor que damos a eles, compra quem quer. É o simples valor da oferta e da procura.
Eu comprava sempre um bom vinho argentino chamado Benjamin Nieto, e ainda compro. Eu o comprava a onze reais. Por causa de sua boa qualidade e rótulo atrativo, o que induz credibilidade, suas vendas cresceram. Em pouco tempo, ele saltou de onze para R$ 16,50! O capitalismo é assim.
Estamos cercados de falsidades até quando as coisas são originais: marca verdadeira, preço falso. Até o dinheiro não tem valor em si, nós é que concordamos de que uma determinada quantidade de dinheiro equivale a algo. Na China antiga (olha ela de novo!), o imperador ameaçou matar os camponeses se eles não aceitassem o novo sistema financeiro. Não entrava na cabeça deles vender uma carroça e receber em troca papel pintado.
A vida é injusta, o mundo é traiçoeiro, as corporações não dão à mínima para as pessoas, meras roupas têm preço de motos... Mas é a vaidade, a pose e o status que alimentam esse comércio cultural de frivolidades.
Obviamente, não estou incentivando a falsificação e a pirataria, de forma alguma. Mas as coisas não são tão simples assim.
Depois de comprar dois quadros (originais) de um artista da terra no Mercado Central, voltei para casa. Lá, me sentei no sofá, tomei um mate gelado e coloquei meu boné “Polo” no cabide e o “Hugo Boss” na geladeira. Ao comprá-los, acho que não contribuí com o aumento do PIB do País nem enriqueci ainda mais os detentores dessas marcas, mas, talvez, quem sabe, tenha contribuído com o pão de cada dia de algum outro milionário que não more em Paris, Milão ou Nova York.
terça-feira, 20 de julho de 2010
O Céu não é de bronze 1
Desde criança eu sempre vi a Deus como uma Pessoa. Por causa disso, não conseguia entender porque se faziam longas e repetitivas orações para pedir algo a Deus, já que Ele é uma Pessoa. Quando eu queria algo de meu pai, chegava abertamente e lhe falava poucas palavras, mas que expressavam a minha intenção. “Pai”, eu dizia com 7 anos de idade, “o senhor pode aumentar o dinheiro da minha merenda na escola?”. “Não”, foi a resposta limpa e seca. “Um cruzeiro já está de bom tamanho pra você”.
Eu não precisei fazer nenhum ritual nem ficar diante dele repetindo: “Me dá mais dinheiro, me dá mais dinheiro, me dá mais dinheiro...” Certamente, ele me levaria ao médico ou me cortaria a palavra, dizendo: “Para de falar que eu não sou surdo!”
Claro que eu também não precisaria me dar por satisfeito com aquela resposta, eu poderia expressar de uma só vez que eu passava fome no recreio com aquele valor. Ele teria mudado de ideia e me acrescentado mais alguns centavos.
Houve, entre nós, um diálogo, não um mantra repetitivo tentando acionar nele um dispositivo favorável a mim. Mas uma conversa entre duas pessoas.
Por que não fazemos o mesmo com Deus? Acaso Deus é surdo? Irredutível? Tem má vontade? Claro que não. Há pessoas que fazem até promessas para serem ouvidas como se Deus fosse um ser esquizofrenizado que adora sacrifícios inúteis dos homens, como andar de joelhos em escadas ou deixar de cortar o cabelo do filho etc. Creio que as “vãs repetições” que Jesus se referiu nascem, talvez, de um coração duvidoso, achando que pelo muito falar será ouvido, como se o Céu fosse de bronze e precisasse ser perfurado. Mas não é isso que a Bíblia e a experiência me dizem.
Na verdade, o Céu é uma Pessoa!
Para mim, uma das passagens mais emocionantes da Escritura se encontra em 2Reis 20. O rei Ezequias adoeceu e o profeta Isaías, mandado por Deus, visitou-lhe em seus aposentos reais e lhe disse que colocasse em ordem sua casa, pois aquela doença era para morte. O profeta saiu e Ezequias ficou sozinho. Voltou-se, então, para a parede e orou, num misto de desabafo e lamento: “Ah, Senhor!... Lembra-te que andei em tua presença com o coração íntegro”. E chorou copiosamente. Não mais conseguiu falar.
Isaías ainda estava no pátio central do palácio quando o Senhor lhe disse: “Para e volta. Diz a Ezequias que ouvi sua oração e vi suas lagrimas, eis que vou curá-lo e acrescentarei quinze anos a sua vida...”
Ezequias fez apenas uma oração, única, de poucas palavras, e chorou. Foi ouvido na hora e atendido imediatamente! Deus havia determinado que tinha chegado sua hora de morrer, contudo, Seu coração foi movido pela dor daquele homem e Ele mudou Sua sentença. Qual pai não mudaria de opinião diante de um pedido sincero de um filho?
Eu tive uma experiência semelhante a essa que quero relatar a seguir na parte dois.
O Céu não é de bronze 2
Quando eu retornava ao Brasil com meu irmão, vindo da Suíça, fizemos uma escala em Lisboa.
O valor de nossas passagens deu tão alto que meu irmão teve direito a um voucher, um vale, um comprovante que lhe dava direito ao pernoite gratuito no hotel.
Assim que chegamos ao aeroporto, corremos ao balcão da Varig para confirmar a hospedagem do meu irmão. O balcão estava fechado.
Fomos direto para o Hotel Roma e fizemos o check-in. Contudo, não havia nenhuma reserva para o meu irmão. O recepcionista ligou para a Varig e eles negaram, sem nenhuma explicação plausível, aquele direito do meu irmão. Além de minha parte, tive que desembolsar 120 dólares pela sua hospedagem.
Aquilo partiu meu coração! Vivíamos, na época, uma inflação galopante no Brasil e, para empreender aquela viagem, minha mãe raspara suas economias no Banco. Naquele período, voos internacionais eram muito caros e eu fiz de tudo para voltar ainda com algum dinheiro para ela. E eram, justamente, aqueles 120 dólares que eu havia conseguido economizar na viagem que eu tencionava levar de volta para minha mãe!
Cedo da manhã, antes de pegar o avião, fui ao balcão da Varig e expus a situação. Um funcionário grisalho me ouviu atentamente e admitiu que realmente tinha havido um erro.
- Que bom que estamos nos entendendo – disse eu. – Espero aqui mesmo?
- Espera o quê? – estranhou ele.
- O dinheiro!
- Que dinheiro? – ele continuou sem entender. Eu repliquei:
- Ora, o dinheiro da hospedagem do meu irmão que paguei ontem indevidamente!
- Espere aí – falou o funcionário, pausadamente - , você está querendo os 120 dólares de volta?
- Sim!
Ele meneou a cabeça.
- Infelizmente, não há precedente na Varig para esse tipo de restituição – sentenciou. – Sei que pagou indevidamente, mas não há nada que eu possa fazer.
Mal pude acreditar.
Nesse momento, chegou o gerente, me cumprimentou com um aceno de cabeça e entrou numa sala.
- Quem é? – perguntei.
- O gerente. Espere, me dê seu passaporte e o documento que vou expor seu caso pra ele.
Ele foi e dentro de poucos minutos voltou.
- Como lhe disse – falou ele –não há nada a fazer. Sinto muito.
Apático, tomei o passaporte e o documento de volta. Me baixei para pegar a alça da mochila e parei. Ali, no íntimo, suspirei profundamente a Deus: “Oh, Senhor! Eu queria tanto levar esse dinheiro para minha mãe!”
Coloquei a alça no ombro. Quando dei o primeiro passo para sair, a porta da sala se abriu e o gerente apareceu.
- Poderia me arranjar de novo os documentos? – pediu ele.
Sem dizer nada, coloquei a mochila de volta no chão e dei ao funcionário os documentos. Ele levou até ao gerente e entrou com ele na sala.
Fiquei em profundo silêncio, apenas observando os acontecimentos.
A porta se abriu novamente e o funcionário veio andando com os olhos baixos e balançando a cabeça levemente. Ele parou na minha frente e me disse olhando nos meus olhos:
- Olhe, eu trabalho na Varig há 18 anos e já vi casos como o seu aos montes. E nunca, durante todo esse tempo, vi a Varig devolver dinheiro a ninguém. Não sei o que aconteceu. Aqui está o seu dinheiro.
Ele estava incrédulo.
Meus olhos brilharam e um sorriso de alegria se estampou no meu rosto. O homem colocou os escudos em minha mão. Eu o agradeci e fui direto ao câmbio. Os 120 dólares estavam de volta ao meu bolso!
Respirei fundo e agradeci:
- Obrigado, Senhor!
Como Ezequias, apenas um suspiro, uma oração, um lamento sincero moveu o coração de Deus!
Horas depois, eu depositava os dólares nas mãos de minha mãe. E senti o alívio em seu rosto.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Uma Primavera inesquecível em Genebra 1
Corríamos feito loucos pelas calçadas geladas da Rue Mont Blanc.
- Se perdermos o trem não temos mais como ir pra casa! – gritou Cínthia à minha frente.
Passei dela e lhe estendi a mão.
- Venha!
O pavimento estava úmido e perigoso. Genebra estava fria e a fumaça branca saía de nossas bocas pelo esforço da corrida. Era começo de primavera, mas o frio ainda imperava.
Entramos na Gare Cornavin esbaforidos. O trem para Nyon saía às vinte e três e dois. Aquele “dois” me fazia crer que a pontualidade Suíça, famosa por seus relógios, era levada muito a sério. Cínthia consultou a hora e percebeu que havia se enganado, ainda eram dez e meia da noite. Tínhamos 32 minutos antes de o trem partir.
- Vamos tomar um café no restaurante da Gare? – sugeriu ela.
Parecia uma boa pedida, pensei. Naquele frio nada melhor que algo quente para aquecer por dentro. Entramos no restaurante. Era antigo e parecia da época da Segunda Guerra. Estava cheio. Tiramos nossos casacos e os colocamos no cabide de entrada. Escolhemos uma mesa próxima ao salão onde havia três senhores tocando violino.
Pedimos dois cafés. Olhei para os grandes olhos de Cínthia e ela sorria. Olhou para mim e passou seu braço em volta do meu. Com um gesto, pedi a um dos violinistas que viesse até a mesa e tocasse para ela. Ele sorriu e veio. Ela me apertou forte.
- Que romântico! – sorriu.
E ali ficamos naquele enlevo, os dois, felizes, parecendo um casal de namorados.
Faltavam dois minutos para o trem partir. Paguei os cafés e corremos para o trem.
Nos acomodamos perto da janela. Quando o relógio da Gare Cornavin marcou onze e dois o trem começou a se movimentar.
Em casa, nos esperava Cecília, sua irmã, com seus quatro filhos. Antes de entrar no quarto, eu a abracei forte e tentei beijá-la. Ela me impediu delicadamente, dizendo:
- O nosso encontro está tão perfeito que tenho medo de estragar se nos beijarmos. Mudará tudo. Vamos ficar assim, querido, como namorados de alma. É melhor assim.
Eu iria logo embora, então sorri e a deixei ir.
Cecília era vice-côncul do consulado brasileiro em Genebra e Cínthia a secretária do consulado. Conheci Cecília por telefone, numa manhã dramática em que fui acordado com a notícia de que meu irmão mais velho tinha sido preso por comportamento suspeito. A verdade, é que ele voltara à Suíça para reatar com a ex-mulher e ela não o recebeu. Sem grana e sem pouso, forçou a porta de uma universidade para entrar e fugir do frio. Os seguranças o deteram e chamaram a polícia. Meu irmão estava psicologicamente perturbado e foi encaminhado a um hospital psiquiátrico do estado e seus documentos enviados ao consulado.
O consulado, na pessoa de Cecília Oliveira, prestou a mim e a minha família um serviço além de extraordinário, humano. Mas ela não parou por aí. Com a informação de que o médico só daria alta para meu irmão se alguém da família o acompanhasse, ficamos numa situação difícil. Então Cecília, movida por solidariedade, me convidou para se hospedar em sua casa durante a semana que eu passaria em Genebra. Fiquei emocionado com seu convite e aceitei. Ela estaria me aguardando no aeroporto segurando uma placa com meu nome.
Lá, não vi ninguém me esperando. Distraído, vi uma mulher se aproximar apressada. “Como é bonita”, pensei. Ao olhar para suas mãos vi meu nome numa placa. Fui ao seu encontro alegremente e a abracei, sorrindo. Constrangida, ela recuou um pouco e disse:
- Germano, eu não sou a Cecília. Sou a Cínthia, irmã dela.
Eu sorri e a abracei de novo.
- Tanto faz! – eu disse.
Ela riu da minha espontaneidade e disse que Cecília estava nos esperando.
Uma Primavera inesquecível em Genebra 2
Cecília e eu nos abraçamos como se nos conhecêssemos a vida toda. Cumprimentei seus pequenos, três meninos e uma menina. Todos lindos, todos simpáticos. Era segunda-feira. Ficaria uma semana no país e no domingo iria a Fribourg buscar meu irmão.
Todas as manhãs eu saía com elas para Genebra. Deixava-as no consulado e, com um mapa, explorava a cidade. Comprava um chocolate para lutar contra o frio e caminhava pelas ruas daquela cidade de boneca. Ao meio-dia, estava de volta à frente do consulado e íamos almoçar num restaurante. Elas voltavam duas horas e eu continuava meu périplo pela cidade. Às seis, estava eu de novo na frente do consulado esperando pelas duas irmãs. Cecília voltava para os seus filhos em casa e Cínthia ia me mostrar a noite genebrina. Jantávamos juntos toda noite em algum bar ou café. Dividimos momentos inesquecíveis naqueles dias.
No sábado, recebi um convite para lá de especial. O filho mais velho de Cecília, de 9 anos, veio formalmente e me disse que ele e os irmãos gostariam de oferecer a mim um jantar de despedida. Feito por eles mesmos! Admirado, agradeci a gentileza e ficamos em casa à noite. Eles fizeram fondue de queijo e carne, acompanhado de molhos deliciosos. Para beber: champanhas sem álcool, pois as crianças também queriam brindar.
Foi uma graça ver aqueles pequenos, eufóricos, preparando um jantar em minha homenagem. Eu ainda não tinha me dado conta, mas a minha presença para eles havia movimentado seus dias, trazendo um ingrediente de novidade. Não pude deixar de me emocionar com todo aquele carinho.
No dia seguinte, Cecília e eu partimos para Fribourg. No hospital, havia um aviso num quadro que tal dia o “irmão de Monsieur ‘Silverrá’ viria buscá-lo”. Meu irmão entrou e, ao me ver, abriu um largo sorriso de alívio e me abraçou.
- Você está bem? – perguntei.
- Sim, mas me tire daqui!
Fomos direto para o aeroporto. Lá, Cínthia e as crianças nos esperavam. Beijei e abracei a todos.
- Obrigado! – disse eu abraçando e beijando Cecília. – Nunca vou esquecer você.
Abracei Cínthia e a beijei no rosto várias vezes.
- Vou sentir sua falta – ela disse. – O que vou fazer todos esses dias sem você? Como vou andar nos mesmos lugares sem você?
Respondi com um forte abraço e um sussurro em seu ouvido:
- Vou sentir muita saudade!
Passei pela imigração. Voltei até o vidro que nos separava e beijei seu rosto sobre ele. Desci a escada rolante batendo no peito com um gesto no coração para eles.
Nunca mais nos vimos. Por uma falta de zelo imperdoável, perdemos contato. Soube que elas deixaram o consulado e, após muitas tentativas de minha parte, o Itamaraty e nem mesmo o consulado conseguiram me dar o paradeiro de Cecília. Eu também me mudei, perdi endereços e telefones.
Anos depois, meu primeiro livro ganhou um prêmio da Academia Cearense de Letras como melhor romance. No ano seguinte ele foi publicado e em seguida fui convidado pelo Programa do Jô para uma entrevista. Torci para que uma delas ou os meninos me vissem e entrassem em contato comigo, mas acho que nunca viram.
À noite, olhando São Paulo lá embaixo pela janela do hotel, me lembrei delas e, desejei, no íntimo, que estivessem bem e felizes. Eu segurava Muito Além da Neblina, meu livro que tinha ido divulgar. Na página anterior ao primeiro capítulo estava escrito:
Para Cíntia e Cecília Oliveira*. Lembrança de uma primavera inesquecível em Genebra, ao som dos violinos.
*Por incrível que pareça, ontem encontrei uma carta de Cínthia entre minhas correspondências. Percebi então meu erro na dedicatória do livro. Cínthia assinava o remetente com o sobrenome Santos, e não Oliveira como pensei. Concluí que Cecília deveria usar ainda o nome de casada, ou então o nome materno ou paterno, que não fosse Santos. Também Cínthia tinha um H no meio, o que corrigi no blog, mas impossível na primeira edição do livro. De qualquer forma, acredito que valeu a homenagem sincera, mas que será corrigida na segunda edição: Para Cínthia Santos e Cecília Oliveira...
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Café, Capuccino, Chocolate quente 3
Um dos erros mais comuns nos Cafés de Fortaleza se chama guardanapo. Sim, o que poderia ser uma solução é sempre um detalhe esquecido.
Geralmente o porta-guardanapo já se encontra sobre a mesa de um Café ou é levada pela garçonete. Agora, experimente tomar café no balcão para ver se lhe dão um guardanapo! Não sei se os clientes comem guardanapo, mas fato é que alguns cafés os escondem, se não o fazem, disponibilizam poucos aos clientes, mas não ficam a disposição no balcão.
O Indalo Café é o campeão nesse quesito também. A atendente coloca a bandeja no balcão, põe a xícara, a colherinha, o açúcar ou adoçante, um pires com biscoitos de cortesia e... e... Está faltando algo? Claro que está: o guardanapo! Mas acha que ela vai colocar? Nunca colocam! Jamais! Elas forçam o cliente a pedir sempre. Não há o menor perigo de elas se lembrarem do guardanapo. Esse item importante para quem vai comer o que quer que seja simplesmente não existe no seu serviço, se você não reclamar.
O guardanapo surgiu na Idade Média, quando os homens comiam sem talheres,com as mãos nuas, limpando-as depois nos pelos de um cachorro ou coelho. Não há dados precisos sobre sua origem, mas comenta-se que um livro de anotações culinárias atribuídas a Leonardo daVinci tem informações que indicam que esta peça pode ter sido também uma de suas invenções. Genial, diga-se de passagem.
Mas foi na década de 70 que ele se democratizou, sendo adotado definitivamente pelas donas de casa, bares, choperias, cafés e restaurantes. Não tem coisa melhor do que limpar a boca com um guardanapo após as refeições. Alguns cafés desprezam esse cuidado com seus clientes, suprimindo sua disponibilidade. Imagine você com um bigode de chocolate e o nariz pintado de creme sem um guardanapo à mão!
Falando mais uma vez em chocolate, o nome destes dois posts se refere a uma ideia que tive com dois amigos de escrevermos um livro que teria como ambiente um Café. Na época estávamos no mezanino da Nobel e, por fazermos sempre os mesmos pedidos, Marton café, eu capuccino e Patrícia chocolate bolamos os títulos do livro de “Café, Capuccino, Chocolate quente”. O livro nunca aconteceu, ficou no imaginário das mesas dos Cafés. Quem sabe um dia eu não o escreva?
Fica aqui minha homenagem aos Cafés, um lugar para quem precisa dos amigos, adora conversar, namorar, pensar, ler, passar o tempo e, claro, tomar um delicioso café, capuccino ou chocolate quente.
Viva as cafeterias!
Café, Capuccino, Chocolate quente 1
Durante muitos anos, a cidade em que moro, Fortaleza, sofreu com o mau atendimento dos garçons e balconistas dos bares e cafés. Na verdade, estes somente começaram a surgir na capital cearense no fim dos anos 80 e início dos 90. Antes desse tempo, havia apenas o tradicional cafezinho, quase de graça, numa cafeteria na esquina com Rua Barão do Rio Branco com Guilherme Rocha, no Centro, onde hoje é a Rommanel.
Era um café de balcão, pé sujo, que se tomava rapidinho, na correria. Tomei uma vez e não vi graça nenhuma. Era servido em escala quase industrial, com bandejas de pequenas xícaras fumegantes lavadas na água fervente. A maioria dos clientes era de pessoas mais velhas.
Com a inauguração em 1982 do Shopping Iguatemi e a abertura de uma loja do Café Guimarães começou na cidade o hábito de estar na rua e pagar para tomar café. Era o início do “café com charme”. Até então, fim da década de 70 para 80, o hábito de tomar café ficava restrito às quatro paredes do lar. E café era algo tão corriqueiro, barato e fácil de fazer, além daqueles que eram oferecidos gratuitamente pelas demonstradoras dos supermercados, que era então impensável pagar para tomar café na rua, fora uma vez ou outra. Não havia, ainda, a cultura dos Cafés, aqueles que ajudaram Paris a ficar famosa desde o início do século 20.
A primeira vez que paguei por um café na minha vida foi no começo da década de 90 no Café Guimarães no Iguatemi. Mas não era um café que estava acostumado a tomar, era um expresso, ou espresso como querem alguns, com creme! Sim, ali em pé no balcão, uma xícara me foi servida com o café preto fumegando. Em seguida, uma pistola de inox teve o bico posicionado para o centro da xícara e um creme branco desceu sobre ele. Ao tocar no café, houve um choque térmico que levantou um suave ar quente. O creme cresceu em espiral. Com uma colherinha, quebrei lentamente o chantilly e cavei um pouco do café, levando a colher à boca com a mistura inusitada.
Foi amor ao primeiro sabor! Nunca tinha me ocorrido que aquela junção aparentemente díspare poderia combinar tanto. Realmente delicioso. E o expresso era algo novo pra mim também: mais forte, mais encorpado, mais marcante. Ali, estava dando adeus ao Café Coado Caseiro e um bem-vindo à Era dos Cafés Expressos.... Mas pouco depois a loja do Guimarães fechou. Foi uma pena. Pior: não havia outro lugar para tomar café.
Pouco tempo depois alguns Cafés foram sendo abertos na cidade, consolidando a tendência de um espaço sofisticado para bater papo enquanto se saboreia um bom cafezinho. Gostaria de listar alguns e comentar sobre eles na segunda parte desse post.
Café, Capuccino, Chocolate quente 2
- Café Santa Clara Orgânico do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Um lugar que visitei a exaustão: bonito e agradável, mas um pouco impessoal para mim hoje, talvez por causa da alta frequência de turistas e poucos fortalezenses. Faz bastante tempo que não vou.
- Grão de Café, na Dom Luís, já fechado, era pequeno e harmonioso, tive alguns bons momentos lá, mas a frequência era pequena e o fechamento parecia inevitável. Uma pena.
-Café Montmartre na Rua Prof. Dias da Rocha com Dom Luís ou quiosque do Shopping Aldeota. Apesar de sempre cheio e um tanto barulhento, tem bom serviço. O capuccino grosso é famoso, mas eu o prefiro mais fino. O carro chefe, porém, é o sanduíche Le Special, sem dúvida delicioso e eleito pela VEJA como o melhor por anos consecutivos. O cachorro quente também é irresistível. A ótima localização favorece a frequência.
- Café Castangno, na Avenida Abolição próximo ao Ideal Clube. Ambiente agradável e bom para conversar. Cardápio variado e atendimento discreto. Um dos poucos, junto com Montmartre, fora de shopping Center.
- Café Spazio, na Virgílio Távora com Abolição. Estou devendo uma visita. Por fora parece bastante aconchegante. Depois de visitá-lo comentarei aqui.
- Café do Ponto, Iguatemi. Ótimas mesas e cafés com aromas variados.Tem bom atendimento. É bastante exposto pois fica no mall do shopping, mas mesmo assim vale um cafezinho lá. Quem está em dia com o peso o café vienense e café brigadeiro são deliciosos e valem a pena.
- Café da Livraria Saraiva. Ambiente favorecido por ser dentro da megastore, o que lhe confere um charme a mais. Seu ponto fraco é ser pequeno, o que gera grande competição por mesas entre os clientes. Tem a vantagem de ter WI-FI liberado pelo Ferreiro Café. Ótimo pro bate papo, bom cardápio e excelente atendimento. As meninas, do caixa ao serviço nas mesas, são uma simpatia e nos chamam pelo nome.
- Ferreiro Café, Iguatemi. Apesar de ter o nome “café” não tem características de Café, mas de restaurante. Pra não perder a viagem, digo que tem ótimos pratos (destaque para o filé alto com champignon) e tem um excelente ambiente.
- Café Santa Clara, Shopping Del Paseo. Originalmente, ficava no mezanino da livraria Nobel. Esta fechou e abriu a Siciliano com o Café no mesmo lugar. Lugar agradável, porém sem mais o mesmo charme e a novidade de antes, mas ideal para um papo rápido depois do almoço. Tem a vantagem, se tiver sozinho, de folhear alguns livros de culinária no mesmo andar, os livros são bonitos e tem ótimas dicas. Sugiro o último de Jamie Oliver na Itália, é de dar água na boca! Dá vontade de comer lendo!
- Indalo Café, quiosque do Del Paseo. Bom cardápio, bom café, destaque para a coxinha de caranguejo e a torta de limão, mas tem atendimento ruim, apesar do grande número de atendentes. Falta simpatia e bom humor às atendentes, que não favorecem clientes fidelizados e chegam a ser grosseiras. Outro dia pedi um guardanapo e a moça tirou um do porta-guardanapo e me deu. Disse-lhe que ela devia me dar o porta-guardanapo para eu tirar com minhas próprias mãos e quantos eu quisesse, já que um era pouco e eu estava acompanhado. Ela respondeu, indignada, que suas mãos estavam mais limpas do que as minhas. Tenho 10% de desconto no Indalo, mas não me sirvo mais lá. Prefiro pagar mais caro no Café ao lado, o Navona.
- Café Navona, Del Paseo. Não tem cardápio tão variado quanto o Indalo, mas tem bom café e o sorriso sempre cativante da Joyce, sua melhor atendente. À noite tem sopas de cair o queixo.
- Café Copenhague, Del Paseo. Espaço bom, boas poltronas, ótimo café, atendimento ok, mas é caro. Qualquer coisa, mesmo a água. Só não cobra pra sentar porque as cadeiras e mesas são do shopping.
- Destino Express, Iguatemi. Espero que tenha vida longa, pois fico triste quando fecha um café, é como se memórias fossem enterradas. Mas, para mim, não vingou. O fato de não ser atendido na mesa foi uma falha imperdoável. Pagar no caixa tudo bem, mas ter de deixar a companhia na mesa sozinha para fazer o pedido não funciona, soa antipático. Voltei apenas mais uma vez e dei por encerrada minha participação. Nada pessoal, mas prefiro o Café da Saraiva como primeira opção e o Café do Ponto como Plano B.
- Café da Livraria Cultura, Avenida Virgílio Távora com Dom Luís, em cima do MBar. Ótimo café, mesinhas com abajur, cardápio variado e um chocolate quente de viciar! O fato de ser dentro da Livraria Cultura dispensa comentários. Tenho ido constantemente.
Quanto ao atendimento geral, Fortaleza melhorou muito em seus cafés. Vê-se, em alguns casos, que falta apenas treinamento. Muitos empregadores contratam pessoas sem treinamento adequado de como atender aos clientes. Vale salientar que Paris é conhecida por ter os piores garçons do mundo. Inclusive existe reconhecimento dessa falha em organizações ligadas a setores de turismo. A má fama dos garçons franceses, acusados de grosseiros, indiferentes, desinteressados e pouco corteses, nada tem a ver com o atendimento nos Cafés de Fortaleza. Quero me abstrair dos bares, que é outra abordagem, mas Fortaleza está melhorando no atendimento. Muito já foi feito, mas é preciso continuar treinando esses profissionais para cativar os clientes. Pois mais do que bons cafés e deliciosas iguarias, queremos ser bem atendidos sim, e com sorrisos. E não é só porque estamos pagando, pois o cliente também tem de ser educado com quem lhe atende. Sempre. Assim todos ficam felizes.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Musicofobia
Acordei na última sexta-feira bastante animado. Estava contente, pois havia dormido relativamente bem durante a noite. Me sentia tranquilo. Tudo começava a transcorrer bem. Minha cirurgia estava marcada, os exames deram excelente e, da noite para o dia, ganhei uma enfermeira luxuosa que me dará todo apoio no pós-operatório, 24 horas por dia, durante os quinze dias de licença médica! Eu não merecia tanto, mas graça é favor imerecido mesmo. A paz sentimental também voltou. Após um período turbulento em que feridas foram abertas sem necessidade, senti que meu coração voltava ao que era antes e que, logo, estaria pronto a amar novamente.
Me sentia feliz. O dia no trabalho foi agradável e à noite fui bater meu ponto na Zug para encontrar os amigos. De lá, decidi fazer uma visita ao Mucuripe, um lugar que não pisava fazia dois anos. Pré-combinei com uma amiga e fiquei com ela e sua turma lá. Eu estava muito bem disposto aquele dia para ir somente para casa. Queria ver gente, ouvir música, dançar e celebrar a alegria de estar vivo e com saúde!
Entramos na Alfândega. Mr. Babão tocava Axé-music antigo, aquelas músicas bem do início do movimento baiano. Pintou uma nostalgia dos carnavais que passei com bons amigos em Aracati cinco anos seguidos. A boate estava ótima: gente bonita, alegre, ambiente iluminado, arejado. Gostei dali. Mas a turma que me fiz acompanhar era feita de peixinhos fora d’água naquele aquário colorido. Me puxaram para outra boate, lá era onde as coisas aconteciam, compreendi.
Atravessamos o corredor e uma porta se abriu. A boate estava lotada. Escuridão total rabiscada por luzes metálicas que desenhavam o ar. A música que tocava... Bem, não era uma música propriamente dita, era um baticum violento e repetitivo. De repente, uma voz tonitruante encheu o recinto: WELCOME TO HELL!... Não, não houve essa voz, mas se tivesse havido não tenho dúvidas que teria causado um urro de comoção na galera.
Ali, ninguém se vê. Fiquei dançando sem compromisso com minha amiga enquanto observava as sombras que se movimentavam ao redor. De repente, uma luz azul acendeu e gravou a pista na minha mente. Abri os braços: Horizonte!,suspirei.
O estilo de música é controverso. Algumas delas na linha tecno-dance, como Children, This Time, Stereo Love, Underneath são realmente ótimas, mas no geral o que rola mesmo é a repetição massacrante de algumas notas que fariam um torturador chinês lacrimejar de emoção pensando como faria sua vítima infeliz com aquela nova arma!
Estilo musical tem a ver com o tempo, as gerações e as novas tecnologias. Hoje ninguém dança mais música lenta nas boates. Isso é totalmente fora de moda e sem mais espaço em lugar algum do mundo das pistas. Aquele romantismo de chamar uma garota pra dançar foi substituído pelo olhar insinuante, a chegada nem tão de mansinho assim e, se não tiver muito o que dizer e os olhares dos dois estiverem de acordo, o beijo descompromissado (e a música truando!). Talvez fiquem juntos a noite inteira, talvez não.
E aqui vai um monte de questionamentos para você mesmo responder: Será que as músicas falam algo de sua época?
Se falarem, esse bate-estaca das raves, aquele zunido lisérgico das boates, o lazer meteórico das pistas e o arranjo sideral dessas músicas descreveriam um tempo frio e insensível?
Seria essa música uma motivação dos sentidos, mas sem passar pelo coração?
Daria para amar essas músicas de verdade, como gerações amaram e ainda amam os Beatles, Sinatra, Duran Duran, Michael Jackson, Keane e outras bandas e cantores que marcaram e estão marcando a história, ou são apenas músicas puramente descartáveis, salvo algumas exceções?
Uma música sem melodia apenas com decibéis killers- tímpanos pode ser gravada na memória de uma forma afetiva?
Como iniciar um romance verdadeiro ao som de uma pistola de raio lazer zumbindo no ouvido?
Ouvi dizer que há casos de epilepsias que podem ser despertados em ambientes claustrofóbicos como aqueles devido ao som estridente e ao estresse da luz estroboscópica.
Acho que fiquei uma hora na Burn. Embora não quisesse me afastar da minha amiga, senti um grande alívio ao sair dali. Fui ao banheiro. Na volta, fiz um rápido pit stop de volta na Alfândega. Que diferença! E, confesso, nunca fui fã de música baiana, mas a noite estava especial e ali, naquela pista iluminada, contrastando com a escuridão da outra boate, me pareceu o paraíso. Até as músicas baianas me pareceram pura poesia. Vê-se o que um purgatório não faz com a gente!
Mas minha amiga continuava lá e eu voltei. Perdi-a de vista, infelizmente. Me despedi por SMS e fui embora. Saí de lá às 3 da manhã. Levantei a viseira do capacete e deixei o vento frio da chuva refrescar meu rosto. Agradeci a Deus por aquele dia tão bom, e também pelo prazer de estar voltando para casa de moto com o barulhinho bom do motor atrás. Gostei do Mucuripe, daqui a dois anos eu volto de novo.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
A arte de andar de moto em Fortaleza – DICAS
1 - Ande pelo corredor dos carros em velocidade baixa e de primeira marcha. Devagar e com a moto presa ao chão, pode-se antecipar a uma porta aberta ou um braço para fora de repente. (Há rumores que o Congresso tenciona criar uma lei para proibir os motoqueiros de andar pelo corredor. Uma lei que jamais pegará. Jamais será cumprida. E pior: aumentaria o engarrafamento no trânsito. Imagine em São Paulo as milhares de motos atrás dos carros seguindo em linha indiana? Esse engarrafamento não teria fim!)
2 - Andar do lado direito dos carros perto do acostamento é muito perigoso. Não adianta dizer aqui para não fazer, todo motoqueiro faz. Então a dica é a mesma do corredor: ande devagar com atenção dobrada e de olho no pisca-pisca dos carros. Mas lembre-se: os abílios-diniz-antes-do-sequestro, pelo menos em Fortaleza, não ligam em dar satisfação de sua vida ao dobrar uma rua, então não se confie na seta!
3 - Buzine sempre ao andar em preferenciais, os carros que vêm pelas ruas adjacentes podem ignorar o PARE.
4 - Buzine. Sim, sempre que se sentir ameaçado ou inseguro, BUZINE! Esqueça esse negócio que é falta de educação buzinar. Tratando-se de moto, uma buzina coerente pode salvar sua vida. Eu já me livrei de muitas situações de risco pelo simples ato de buzinar. E até os motoristas agradecem, pode ter certeza.
5 - Cuidado ao andar na janela. Se fizer isso, ao contrário do corredor, faça rápido e volte logo para sua mão. Um desvio de volante de um motorista desatento pode derrubar você.
6 - Nem sempre andar devagar é seguro. Acelere forte em determinados momentos, quanto mais longe ficar dos carros e, principalmente dos ônibus, melhor.
7 - Falando em ônibus, não entre em corredor que tenha ônibus. Só o faça se o sinal tiver acabado de fechar. Se você estiver passando e ele começar a andar, você se verá em apuros. Os motoristas de ônibus não têm cuidado com motos. Se o coletivo se mover enquanto você tiver passando no corredor e desviar um pouco, pode imprensar você. Fuja desse corredor da morte!
8 - Há momentos que é melhor andar como carro e perder mais tempo no trânsito. Seja sábio para saber em que momento tomar essa decisão. Em algumas situações é melhor perder tempo do que se apressar e quebrar a cara!
9 - Procure parar sempre na frente dos carros e antes da faixa no sinal. Ao abrir, você terá uma rua livre à frente e deve sair rápido para se distanciar dos carros com segurança.
10 - Quando for ultrapassar a noite procure dar todos os sinais possíveis para ser visto pelo motorista: buzina e luz alta rápida no retrovisor pode avisá-lo que você está passando. Uma acelerada forte no motor também ajuda a despertá-lo.
11 - Sempre que estacionar trave a moto. Uma moto destravada pode ser levada por vários quarteirões empurrada por um ladrão. Tranca nela!
12 - Não aumente o som original do motor de sua moto, mesmo que ele ajude a chamar a atenção para sua passagem e isso gere alguma segurança, é irritante e faz mal aos ouvidos. Sem falar que você nem vai conseguir ouvir música no mp3.
13 - Falando em mp3, não se isole do mundo ao redor com música altíssima. Deixe sempre num volume que dê para ouvir todos os sons à volta.
14 - Penúltima dica: não fique só com essas dicas, procure outras mais!
15- E pra fechar, sempre que puder: PEGUE A ESTRADA! Depois disso, o trânsito da cidade lhe parecerá tão tranqüilo que você passeará por ele. A estrada é o habitat natural do motociclista, é onde ele oxigena o sangue, fugindo do ar rarefeito da cidade e onde ele enche os pulmões de ar puro e a alma de paisagens. Seja livre e bons caminhos!
segunda-feira, 5 de julho de 2010
A arte de andar de moto em Fortaleza 1
Vamos falar francamente: andar de moto em cidade grande é preciso mais do que técnica de pilotagem, é preciso talento.
Agora, andar de moto em Fortaleza, capital do Ceará, é necessário mais do que isso, é preciso ser abençoado!
Para uma motocicleta cair, basta ela parar. Se não apoiar o pé no chão ela vira. Simples assim. Mas andando, a coisa é diferente!
Essa maravilha da invenção humana chamada “motor” torna uma máquina de duas rodas tão estável quanto se fosse um quadriciclo. A estabilidade da minha motocicleta cross é fantástica. Seja em qualquer terreno ela segura bem. Até nos “sabonetes” das areias da praia ela passa com autoridade.
Nas ruas de Fortaleza, no entanto, existem dois perigos sempre à espreita. O primeiro deles, mas nem tão ameaçador, embora não se deva ignorá-lo, são os coitados dos motoqueiros entregadores de pizza.
Digo “coitados” porque aquilo não é andar de moto, aquilo é uma corrida desesperada pela sobrevivência, é o operário da motocicleta, o pião de duas rodas, cuja função diária e estressante lhe rouba o prazer da boa cavalgada no cavalo de aço.
Esses caras nem se lembram mais se andar de moto dá prazer. Ainda trazem no peito aquela paixão inicial – essa é difícil sair - , mas o pangaré de ferro que conduzem não é o melhor de seus pares. Cilindrada baixa, amortecedores a desejar e sem estilo fazem dessas motos meras sombras no asfalto, embora muito úteis. Só se divertem de fato no domingo ao ir a praia com a mulher na garupa e o filho pequeno no meio.
Esses motoqueiros são pressionados a entregas cada vez mais rápidas. Algumas pizzarias atrelam a comissão desses profissionais à quantidade de entregas. Dito isso, dá pra imaginar porque esses motoqueiros voam feito loucos pelas ruas. Sobem calçadas sem cerimônia, ultrapassam pela direita tirando fina, passam o sinal vermelho em qualquer horário, aceleram forte nos corredores, se arriscam em manobras irrefletidas e entram na contra-mão quantas vezes for necessário.
Sempre que os vejo, mantenho distância. Paro até longe deles. Já levei grandes sustos com seu jeito irresponsável de pilotar. Sinceramente, prefiro andar perto dos carros. Paradoxalmente, os motoristas tem mais cuidado com os motoqueiros do que estes próprios com seus colegas!
A amizade entre motoqueiros é um mito. Enquanto a moto está em movimento parecem mais adversários do que parceiros. Essa identificação só aparece mesmo quando acontece um acidente. Basta um moto esta caída no chão que, sem aviso prévio, vários motoqueiros param e ficam ali ao lado querendo saber o que houve, como uma espécie de pressão ao motorista. Nisso, todos somos solidários: bateu num motoqueiro, bateu em todos.
Mas por que tem acontecido tantos acidentes de moto? De quem é a culpa?
A arte de andar de moto em Fortaleza 2
A minha paixão por moto é um fenômeno tardio. Prestes a completar 40 anos, vi algumas motos Dafras num site e achei facílimo adquiri-las. Então, de uma hora para outra, fui dominado por uma paixão imensa por motocicletas!
A resposta que dou para isso, já que nunca fui apaixonado por motos, é esta: já havia tido dois carros usados que serviram muito, mas me deram muito trabalho também, então prometi a mim mesmo nunca mais comprar um carro velho; não tenho vaga de carro no meu prédio, então não tinha onde estacionar qualquer um que comprasse. E ainda tinha os 40 anos, acho que isso pesou: fazer algo novo, já que estava ficando mais velho.
Em suma, era a crise dos 40, provavelmente, o que me levou a comprar uma moto.
Mas isso estou pensando agora, porque no momento eu não pensava direito, era pura emoção. Fui invadido por uma paixão imensa por motocicletas. Em apenas uma semana, me matriculei numa autoescola e comecei as aulas.
Acordava todos os dias às cinco da manhã. Caminhava até a autoescola, subia na garupa (um horror!) do instrutor e íamos para as dunas da Praia do Futuro. Lá dávamos início às aulas. Achei tão difícil que no terceiro dia perguntei a ele se eu pilotaria uma moto com a mesma facilidade com que dirigia um carro. Ele disse que
sim. Eu não acreditei. Mas continuei as aulas.
Com menos de dois meses eu estava no DETRAN para fazer o exame de rua. Lá, fiz um pedido a Deus. Se fosse para sofrer qualquer acidente de moto algum dia, então eu preferia não passar no exame, e se não passasse desistiria de tudo aquilo. Eu falava sério. Senti que Deus me ouviu. Passei no exame. Tranquilamente. Pela fé, cri que ele me atendeu, como se me dissesse: "Vai nessa, eu Sou contigo!"
Saí de lá “blindado” pelo Céu. E piloto ainda hoje assim, confiante e sem medo de nada.
Porém, no dia 24 de dezembro de 2008, saí da Unimaq com minha Bros 150cc, em plena véspera de Natal, na Avenida Pontes Vieira, movimentadíssima, onze da manhã, sem nunca ter andado na rua nem sequer passado a segunda marcha!
As aulas de condução de motos no Brasil são um perigo! Os instrutores não nos ensinam a andar na rua nem nos dão dica alguma disso. Pelo menos, o meu não deu. Somos treinados a seguir os passos básicos de subir e sair numa moto, nos desviar de cones, fazer o 8 e outras manobras, como miquinhos amestrados. Só.
Tudo que aprendi sobre como dirigir uma moto no trânsito e nas estradas eu devo a mim mesmo. Li tudo que pude a respeito. Quem eu conhecia que andava de moto pedia conselhos e dicas, comparando sempre com o que dizia os sites especializados. Quando pisei na pista do exame naquela manhã, eu tinha mais informação sobre o assunto que a maioria dos candidatos ali.
Mesmo assim, pegar a Pontes Vieira naquele Natal foi um desafio imenso. Eu estava com muito medo, me tremia inteiro, as mãos suavam e, finalmente, passei a segunda marcha, e a terceira e aí vi realmente o que era andar de moto! Uma maravilha! Mas também um perigo para quem não estava plenamente habilitado, mesmo com a carteira de habilitação no bolso!
Daí pra frente, andei todo dia para perder o medo e ele sumiu! Mas vale aqui uma informação sem meias palavras: autoescolas no Brasil não ensinam ninguém a andar no trânsito!
A maioria dos acidentes que acontecem com motos em nossas ruas se dá pela ineficiência e imprudência dos motoqueiros, mas tem em sua raiz o péssimo ensino recebido. O exame de motos em Portugal força o aluno a sair na rua e o instrutor o acompanha num carro falando com ele ao rádio, orientando o que ele deve ou não deve fazer.
Esse sistema de autoescola brasileiro tem de acabar logo. Antes que mais motoqueiros morram por aí. Ele não serve. O motoqueiro é preparado para tirar a carteira, não para enfrentar a rua.
Agora, e os motoristas? Eles respeitam as motos?
A arte de andar de moto em Fortaleza 3
Vamos derrubar um mito agora: carros não são inimigos de motos! Salvo uma minoria mal intencionada, motoristas respeitam as motos, não querem se envolver em acidentes, muito menos com motoqueiros. É uma encrenca que nenhum deles quer entrar. Como disse anteriormente, a maioria dos acidentes é provocada pelos próprios motoqueiros.
Dirijo carros há vinte anos e moto há um ano e meio e só me envolvi em acidente de trânsito uma única vez. De carro. E, ironia das ironias: atropelei uma moto! Adivinha de quem foi a culpa?
Uma motoqueira levando um garupa pilotava distraída ouvindo o amigo na garupa dar conselhos sobre o término do namoro dela. Deu mais atenção aos conselhos do que a placa vermelha de PARE diante dela, e passou a preferencial. Eu vinha a meros 40 quilômetros e, quando a vi, ela estava na minha frente. Pisei no freio, mas não teve jeito. A batida foi tão forte que eles foram lançados longe. Ela voou alto e caiu no chão, quebrando a clavícula. O garupa caiu perto de uma churrasqueira dum bar de esquina. A batida foi em cima da perna dele. A moto quase partiu ao meio.
Parei o carro e saí correndo para socorrê-la. Quando olhei pro lado, vi o garupa segurando a perna com o tornozelo partido e o pé pendurado. Do meu Voyage, somente a tela e um farol quebrados.
Chamei o SAMU e o dono do bar com alguns frequentadores me cercaram: “A gente viu tudo”, disse ele, “ela ultrapassou a preferencial, se precisar de testemunhas conte com a gente”. Agradeci e continuei acompanhando o drama daqueles dois infelizes.
Naquela noite mal consegui dormir. De manhã, ao sair para o trabalho, dei uma olhadela no carro e preferi ir de ônibus. Me senti inseguro em dirigir naquele dia. Só vim pegar de novo no volante no dia seguinte. Naquela semana liguei para o hospital para saber como eles estavam indo. A moça se recuperava bem, mas o amigo já tinha passado por duas cirurgias.
Andar de moto é andar com quatro olhos, é estar atento. Nada de andar com o pensamento nas nuvens cruzando ruas nem olhar para a garota bonita que passa na calçada. Nem ficar batendo papo com o garupa!
Mas se perigos assim já fossem motivos suficientes para ficarmos atentos, existe um dado a mais para manter o alerta em andar de moto em Fortaleza. Tudo bem, os motoristas não querem se envolver em acidentes, porém, os motoristas de Fortaleza sofrem de uma síndrome terrível e imperdoável. As ruas da cidade estão repletas de abílios-diniz-antes-do-sequestro!
Para quem não se lembra, Abílio Diniz é o dono do Pão de Açúcar que foi sequestrado em 1989. Muito tempo depois, ele escreveu uma biografia contando que antes do sequestro ele era tão arrogante, mas tão arrogante que nunca dava seta para dobrar quando dirigia seu carro... Porque ele dizia que não tinha que dar satisfação da vida dele a ninguém! Sim, acredite! Hoje Diniz é um homem mudado e cheio de valores que o sofrimento lhe granjeou.
Infelizmente, porém, vários abílios-diniz-antes-do-sequestro dominam as ruas da capital cearense. Seja homem ou mulher, ver uma seta para dobrar piscando na lanterna de um carro é um luxo! Tudo motorista dedo duro! Que custa dá seta para dobrar?! Um mau hábito que pode causar muitos acidentes, e se tratando de uma moto atrás, um perigo duplo! Esses motoristas simplesmente não ligam o pisca-pisca, tem preguiça, é muito esforço. Curiosamente, a maioria deles dirige carros caros. Arrogância? Prepotência? Distração? Por que não tudo isso junto? Não sei quanto a outras capitais, mas em Fortaleza é assim.
Não, não esperem que eles deem seta para quando forem sair do estacionamento ao lado da calçada, aí é pedir demais. Sem falar nos celulares! Não estão nem aí! Dirigem lentamente e às vezes em zig-zag no meio da rua para atender a um assunto importante. É, não dá para deixar de atender, que se dane o motoqueiro que vem ao lado!
Não queria, claro, que ninguém fosse sequestrado para aprender a ser humilde, bastaria apenas olhar para o outro com respeito e dirigir com segurança. Quem dera tivesse em nossas ruas maduros abílios diniz. Pois este, hoje, certamente sinaliza tudo que é preciso ao dirigir um automóvel.
Diante dessa fauna urbana, andar de moto em Fortaleza é realmente uma arte.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Seleção do Dunga: Crônica de uma morte anunciada
Enfim, acabou. Acabaram-se as festas, as brincadeiras, as reuniões com os amigos, as folgas no trabalho. A Seleção? Bem, esta não merece choro nem vela, nem uma fita amarela gravada com o nome dela, como cantou Noel Rosa.
Brasil de Dunga x Holanda. Um a zero no primeiro tempo, jogo na mão. Jogou bem. No segundo levou um gol besta e se desestabilizou emocionalmente. Estranho, tanto jogador experiente em campo, aliás, esse foi um dos motivos de Dunga não levar jogadores sem experiência na Seleção, vide Neymar e Ganso, agiram como amadores.
O Brasil perdeu o Mundial de 2010. Ainda bem, pelo menos esse estilo de jogo não será uma determinante para o nosso futebol, que é de natureza aguerrida e talentosa, ao contrário dessa equipe.
Mas a grande ironia de tudo é esta: no dia em que o Brasil joga bem como em nenhum outro jogo da Copa, ele perde! Todos os outros que jogou sem encanto e mal mesmo, ganhou. Será que o Dunga está certo: é melhor jogar feio e ganhar do que jogar bonito e perder? Espero que não!!
Agora, é esperar para a Copa do Brasil ser um triunfo em todos os sentidos, fora e dentro de campo.
Vamos, lá, gente. Sem choro, essa Seleção do Dunga não merece nenhuma lágrima de nossos olhos. Somente às folgas do trabalho, a reunião com os amigos e as festas.
Mas jogando bem ou jogando mal, a culpa mesmo foi do Mick Jagger. Aquele pé frio!
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