terça-feira, 1 de junho de 2010

Contra o fanatismo 1



Terminei de ver a série sobre a Segunda Guerra Mundial emprestada pelo meu amigo Marton. Já li muito sobre o assunto, sem contar filmes e documentários. Mas estes foram 30 DVDs, com três episódios cada, totalizando 90 filmes de 20 a 40 minutos. Nesta série, contudo, o que me chamou particular atenção foi a ênfase dada à Guerra do Pacífico entre os EUA e o Japão.
Era assustadora a postura dos japoneses na Segunda Guerra. Nem mesmo os soldados alemães, conhecidos pela sua crueldade contra os civis, foram tão fanáticos quanto aqueles homenzinhos! O contexto de seu país já era bastante estranho: o imperador Hiroíto era considerado um deus. À sua passagem, todos curvavam a cabeça e não ousavam olhar para ele; a sociedade japonesa no início do século 20 era feudal e, porque não dizer, quase medieval; as mulheres não tinham direitos civis e para os homens era melhor cometer o suicídio do que enfrentar uma derrota, uma desonra. Era preferível à morte a um fracasso, a vergonha. O que, convenhamos, é um pensamento tremendamente absurdo querer se matar porque algo saiu errado.

Aqueles homenzinhos irados, obstinados e raivosos poderiam ter optado pelo comércio para obter as matérias primas que faltavam ao solo nipônico, mas eles optaram pela guerra. A guerra foi uma opção pensada e racional. Sim, eles não foram atacados, nem forçados, nem agredidos. Eles decidiram pagar o preço conscientemente, o preço de matar e de morrer. Como vencer uma nação disposta a usar seu próprio corpo como míssil? Os kamikases impuseram grandes perdas aos americanos. Seu desejo cruel de lutar fez o EUA entrar num impasse, pois quanto mais venciam as batalhas, mais japoneses se apresentavam para morrer pelo seu país.

As perdas dos soldados americanos estavam num nível do insuportável. Próximo ao fim da guerra, e a derrota já se delineando no horizonte, o Japão poderia ter baixado as armas e evitado ainda maior carnificina. Mas não. Morrer era uma honra e perto de abril de 1945 milhares se apresentavam para se tornar kamikases. Essa atitude obstinada tinha o intuito de impor pesadas perdas ao inimigo, mesmo que isso provocasse o extermínio da nação inteira. Sem dúvida, uma geração beligerante, orgulhosa e fanática.

Após conquistar a ilha de Okinawa, o próximo passo era a invasão do Japão, mas os EUA não sabiam mais o que fazer. Foram 15 mil soldados americanos mortos na conquista da ilha. Do lado japonês, dez mil e cerca de 40 mil civis mortos. O comandante japonês, General Ushijima, suicidou-se pelo método ritual, o haraquiri. Não suportou perder a ilha. Os EUA não tinham dúvidas que venceriam na invasão. Mas a que preço? A campanha seria sangrenta e exaustiva. Havia 1 milhão de japoneses para defender as ilhas territoriais, 5 mil aviões para dar apoio, treinamento constante de novos pilotos kamikases, que não paravam de crescer e até mesmo ataques suicidas voluntários da população civil eram uma possibilidade. Seria um massacre. Estimou-se que mais de 250 mil americanos morreriam na invasão.

Nesse período, o presidente Trumann foi informado sobre o projeto Manhattan e o êxito dos testes da bomba atômica. Ele não hesitou. A bomba de urânio, Little Boy, foi jogada pelo Enola Gay a 6 de agosto de 1945 sobre a quarta maior cidade do Japão, Hiroshima. Foi uma demonstração terrível de um novo poder destruidor. Milhares foram desintegrados instantaneamente. Morreram entre 40 a 100 mil pessoas, não se sabe ao certo. Mas mesmo assim, os japoneses não se dobraram. Então veio a segunda bomba, Fat Boy, de plutônio e mais potente que a primeira, lançada em Nagazaki em 9 de agosto. O imperador e seu gabinete ainda deliberaram se deviam se render ou não. Metade dos ministros ainda era a favor de continuar lutando! Então, Trumann os avisou que se eles não se rendessem incondicionalmente, uma “chuva de fogo cairia sobre o Japão como algo nunca visto na Terra!”

Eles se renderam. O grande paradoxo da bomba atômica jogada sobre o Japão, numa contagem de quase 200 mil mortes, é que ela evitou mais mortes, tanto de americanos quanto de japoneses. Trinta anos depois do final da Segunda Guerra Mundial, soldados japoneses ainda se escondiam no interior das florestas das ilhas do pacífico sem saber que a guerra havia acabado. O fanatismo daqueles homenzinhos causou perdas gigantescas aos soldados americanos e a si mesmos. O fanatismo dos japoneses daquela geração não deve ser esquecido, pois nada é tão assombroso do que um ser humano, um exército ou um povo fanático. E o fanatismo, infelizmente, continua forte no mundo. Hoje, felizmente, o Japão mudou bastante e prefere optar pelo comércio à guerra para se sustentar.

Com a rendição, o general McArthur governou o Japão por seis anos, impondo um regime democrático ao país, eleições livres e direito às mulheres ao voto. Depois disso, o general entregou o poder aos próprios japoneses e se retirou de volta para casa. Eles tiveram sorte de não ter sido vencidos pela União Soviética.

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