"Herege não é quem arde na fogueira, mas quem a acende". Shakespeare.
Sem dúvida: de todos os fanatismos, o mais estranho, o mais bizarro e um dos mais alienantes é o fanatismo religioso.
Não queria me deter no fanatismo muito em voga e sempre na mídia como o fanatismo islâmico, cuja base de sua religião é a submissão dos povos a Alá pela espada e, enquanto isso não acontecer, todos os não-islâmicos são inimigos potenciais dos muçulmanos. Quero falar do fanatismo cristão evangélico.
Uma das coisas mais saudáveis que existe é encontrar e participar de uma igreja evangélica sadia, séria, que respeita as liberdades individuais e que não abre mão de pregar a Palavra de Deus com misericórdia, amor e bom senso. Para quem está fora da igreja, seguir preceitos bíblicos, ser crítico a diversas coisas tidas como normais pela cultura do mundo, buscar uma vida de oração e leitura da Bíblia, negar-se a si mesmo em prol de fazer a vontade de Deus podem ser tidas como coisas alienantes por alguns. Obviamente isso não é verdade. Cristo deixou uma fórmula perfeita para sabermos se o caminho é de Deus ou não: Pelos frutos conhecereis a árvore, disse Ele.
Curiosamente, Jesus não disse “pelas obras”, mas “pelos frutos”. Isso tem forte razão de ser. Você pode fazer grandes obras de caridade, fundar ONGs de assistência social, creches, distribuir todos os bens ao próximo, “mas se não tiver amor, nada serei”, afirmou o apóstolo Paulo em sua carta aos Coríntios. Há muita gente neste mundo que gosta de se promover com ações de caridade e outras que o fazem mecanicamente, ou como forma de barganhar com Deus. Mas a verdadeira caridade nasce do coração, livre, espontânea e influenciada pelo Espírito Santo. Como se diz: Não se chega à salvação pelas obras, mas às boas obras pela salvação.
Quando cremos em Cristo e procuramos, com humildade, segui-Lo, os frutos aparecem. E os frutos do Espírito, segundo a Bíblia, são: “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio”. Ora, quanto a essas coisas não há repreensão. E algo muito simples pode ser conferido: o fanático religioso não tem nenhum destes frutos. Ele tem aparência de piedade, mas sem sê-lo.
Contrapondo aos frutos do Espírito, a Bíblia também fala não dos frutos, mas das obras da carne, que são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, inimizade, porfias, ciúmes, feitiçarias, iras, adultérios, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, orgias, glutonarias e coisas semelhantes a estas. Não é preciso fazer parte da igreja de Cristo para reconhecer que tudo isso acima não presta.
Mas como um fanático cristão começa a nascer?
Primeiro: ele, ao ter contato com o Evangelho, torna-se legalista. Vive pela letra da lei e logo se esquece que sempre foi pecador. (Aliás, o ser humano é um pecador ambulante, faz parte de sua essência terrena, estando ele dentro ou fora da igreja). Passa a se julgar em alta conta e começa a chamar os outros, aqueles que não participam da igreja, de “ímpios”. Não sai mais para lugar algum, acha pecado mortal beber, fumar, ir a um barzinho, a um show e, sabe lá, à praia. Isola-se do mundo, na verdade, tem medo do mundo, quando ele devia, com sua presença, mudar o mundo, pelo menos o mundo que o rodeia.
Certa vez, um amigo meu crente me acusou por me sentar com alguns “ímpios”, segundo a palavra dele, nos cafés do shopping Del Paseo. Ao chamar os outros de “ímpios”, ele nem se dá conta de que o ímpio é ele mesmo, pois ímpio vem de “impiedade”. Então, para de julgar os outros, seu impiedoso!
Segundo: O fanático geralmente quer controlar as vidas. Gosta de manipular os outros e adora citar versículos para acusar as pessoas. Não tem misericórdia nem se solidariza com pecadores que praticam coisas que ele sempre praticou. Ele acabou de sair de um estilo de vida reprovável, mas olha para trás como se nunca tivesse vivido de tão maneira. Não, ele não se identifica mais com tal pessoa, não tem a generosidade de se aproximar em amor e não em acusação. O fanático (e também o legalista) é impiedoso. Ao contrário de Davi, que para não se ensoberbecer, pedia a Deus para deixar seus pecados sempre diante dele, para que ele nunca se esquecesse quem era.
Terceiro: O fanático acha que todo mundo está errado e só ele está certo. Manifesta para outros um deus criado à sua imagem e semelhança, com características que compõem a sua própria personalidade como rancor, azedume, impiedade, avareza etc. Um deus acusador. Geralmente, ele também é místico. A tudo mistifica e acaba se tornando antissocial, esquisito, desconfiado.
E quarto: A reboque dessa esquisitice e da esquizofrenia que tomou conta de sua alma, o fanático chega a ponto de se afastar da própria família porque ela não creu em Cristo como ele. O sujeito se converte a Cristo, se torna membro de uma igreja evangélica, mas os pais e os irmãos e até a empregada continuam católicos, ou não creem em nada. Aí acontece o elemento mais típico de um fanático-legalista: ele se afasta da família dentro da própria casa e os considera ímpios. Não participa mais de nada, mal fala com os pais e irmãos, não frequenta mais festas de família, ignora os parentes e passa a viver mais dentro do quarto do que no convívio familiar.
Às vezes, ele até para de estudar e de trabalhar. Obviamente, nenhuma igreja decente compactua com essa atitude, ele seria imediatamente orientado a parar com isso. Mas se ele frequenta uma seita, então ele ficará pior, pois essa é a característica maior de uma seita: afastar seus membros da família para dominá-los mais facilmente. Ele despreza a afirmativa bíblica que diz que aquele que não cuida da própria família é pior que um pagão.
Mas não só. O fanático se afasta também dos antigos amigos. Eles não são mais dignos de sua santa companhia, agora ele vive num patamar espiritual elevadíssimo, não há mais tempo a gastar com perdidos, ele é um ser especial agora, um eleito, tem que estar sempre com os irmãos que fala a sua língua. Ele se afasta definitivamente de todos eles. Nem sequer mais os atende.
Essas são quatro características de um fanático religioso, a meu ver. E é por isso que sou contra o fanatismo de qualquer tipo, e especialmente o religioso. Seus frutos sempre são podres.
Sim, é um prazer estar com os irmãos da fé; é uma alegria ouvir a palavra de Deus juntos, conversar sobre assuntos de interesse mútuo; é natural que nos interessemos mais por um tema em nossa vida e passemos a investir mais tempo nisso, todo mundo assim o faz; porém Jesus disse que a igreja é sal e luz do mundo! E a igreja são pessoas de carne e osso, não templos de tijolo e argamassa. É para trazer sabor a vida de pessoas necessitadas e iluminá-las com o conforto de Deus que estamos aqui. E ninguém que se julgue melhor do que outros pode ser usado por Deus como luz e sal.
Jesus é dia a dia. E onde estivermos e com quem estivermos Ele está conosco. Humildade diante de Deus e diante dos homens: blindagem certa contra o fanatismo.
Sem dúvida: de todos os fanatismos, o mais estranho, o mais bizarro e um dos mais alienantes é o fanatismo religioso.
Não queria me deter no fanatismo muito em voga e sempre na mídia como o fanatismo islâmico, cuja base de sua religião é a submissão dos povos a Alá pela espada e, enquanto isso não acontecer, todos os não-islâmicos são inimigos potenciais dos muçulmanos. Quero falar do fanatismo cristão evangélico.
Uma das coisas mais saudáveis que existe é encontrar e participar de uma igreja evangélica sadia, séria, que respeita as liberdades individuais e que não abre mão de pregar a Palavra de Deus com misericórdia, amor e bom senso. Para quem está fora da igreja, seguir preceitos bíblicos, ser crítico a diversas coisas tidas como normais pela cultura do mundo, buscar uma vida de oração e leitura da Bíblia, negar-se a si mesmo em prol de fazer a vontade de Deus podem ser tidas como coisas alienantes por alguns. Obviamente isso não é verdade. Cristo deixou uma fórmula perfeita para sabermos se o caminho é de Deus ou não: Pelos frutos conhecereis a árvore, disse Ele.
Curiosamente, Jesus não disse “pelas obras”, mas “pelos frutos”. Isso tem forte razão de ser. Você pode fazer grandes obras de caridade, fundar ONGs de assistência social, creches, distribuir todos os bens ao próximo, “mas se não tiver amor, nada serei”, afirmou o apóstolo Paulo em sua carta aos Coríntios. Há muita gente neste mundo que gosta de se promover com ações de caridade e outras que o fazem mecanicamente, ou como forma de barganhar com Deus. Mas a verdadeira caridade nasce do coração, livre, espontânea e influenciada pelo Espírito Santo. Como se diz: Não se chega à salvação pelas obras, mas às boas obras pela salvação.
Quando cremos em Cristo e procuramos, com humildade, segui-Lo, os frutos aparecem. E os frutos do Espírito, segundo a Bíblia, são: “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio”. Ora, quanto a essas coisas não há repreensão. E algo muito simples pode ser conferido: o fanático religioso não tem nenhum destes frutos. Ele tem aparência de piedade, mas sem sê-lo.
Contrapondo aos frutos do Espírito, a Bíblia também fala não dos frutos, mas das obras da carne, que são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, inimizade, porfias, ciúmes, feitiçarias, iras, adultérios, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, orgias, glutonarias e coisas semelhantes a estas. Não é preciso fazer parte da igreja de Cristo para reconhecer que tudo isso acima não presta.
Mas como um fanático cristão começa a nascer?
Primeiro: ele, ao ter contato com o Evangelho, torna-se legalista. Vive pela letra da lei e logo se esquece que sempre foi pecador. (Aliás, o ser humano é um pecador ambulante, faz parte de sua essência terrena, estando ele dentro ou fora da igreja). Passa a se julgar em alta conta e começa a chamar os outros, aqueles que não participam da igreja, de “ímpios”. Não sai mais para lugar algum, acha pecado mortal beber, fumar, ir a um barzinho, a um show e, sabe lá, à praia. Isola-se do mundo, na verdade, tem medo do mundo, quando ele devia, com sua presença, mudar o mundo, pelo menos o mundo que o rodeia.
Certa vez, um amigo meu crente me acusou por me sentar com alguns “ímpios”, segundo a palavra dele, nos cafés do shopping Del Paseo. Ao chamar os outros de “ímpios”, ele nem se dá conta de que o ímpio é ele mesmo, pois ímpio vem de “impiedade”. Então, para de julgar os outros, seu impiedoso!
Segundo: O fanático geralmente quer controlar as vidas. Gosta de manipular os outros e adora citar versículos para acusar as pessoas. Não tem misericórdia nem se solidariza com pecadores que praticam coisas que ele sempre praticou. Ele acabou de sair de um estilo de vida reprovável, mas olha para trás como se nunca tivesse vivido de tão maneira. Não, ele não se identifica mais com tal pessoa, não tem a generosidade de se aproximar em amor e não em acusação. O fanático (e também o legalista) é impiedoso. Ao contrário de Davi, que para não se ensoberbecer, pedia a Deus para deixar seus pecados sempre diante dele, para que ele nunca se esquecesse quem era.
Terceiro: O fanático acha que todo mundo está errado e só ele está certo. Manifesta para outros um deus criado à sua imagem e semelhança, com características que compõem a sua própria personalidade como rancor, azedume, impiedade, avareza etc. Um deus acusador. Geralmente, ele também é místico. A tudo mistifica e acaba se tornando antissocial, esquisito, desconfiado.
E quarto: A reboque dessa esquisitice e da esquizofrenia que tomou conta de sua alma, o fanático chega a ponto de se afastar da própria família porque ela não creu em Cristo como ele. O sujeito se converte a Cristo, se torna membro de uma igreja evangélica, mas os pais e os irmãos e até a empregada continuam católicos, ou não creem em nada. Aí acontece o elemento mais típico de um fanático-legalista: ele se afasta da família dentro da própria casa e os considera ímpios. Não participa mais de nada, mal fala com os pais e irmãos, não frequenta mais festas de família, ignora os parentes e passa a viver mais dentro do quarto do que no convívio familiar.
Às vezes, ele até para de estudar e de trabalhar. Obviamente, nenhuma igreja decente compactua com essa atitude, ele seria imediatamente orientado a parar com isso. Mas se ele frequenta uma seita, então ele ficará pior, pois essa é a característica maior de uma seita: afastar seus membros da família para dominá-los mais facilmente. Ele despreza a afirmativa bíblica que diz que aquele que não cuida da própria família é pior que um pagão.
Mas não só. O fanático se afasta também dos antigos amigos. Eles não são mais dignos de sua santa companhia, agora ele vive num patamar espiritual elevadíssimo, não há mais tempo a gastar com perdidos, ele é um ser especial agora, um eleito, tem que estar sempre com os irmãos que fala a sua língua. Ele se afasta definitivamente de todos eles. Nem sequer mais os atende.
Essas são quatro características de um fanático religioso, a meu ver. E é por isso que sou contra o fanatismo de qualquer tipo, e especialmente o religioso. Seus frutos sempre são podres.
Sim, é um prazer estar com os irmãos da fé; é uma alegria ouvir a palavra de Deus juntos, conversar sobre assuntos de interesse mútuo; é natural que nos interessemos mais por um tema em nossa vida e passemos a investir mais tempo nisso, todo mundo assim o faz; porém Jesus disse que a igreja é sal e luz do mundo! E a igreja são pessoas de carne e osso, não templos de tijolo e argamassa. É para trazer sabor a vida de pessoas necessitadas e iluminá-las com o conforto de Deus que estamos aqui. E ninguém que se julgue melhor do que outros pode ser usado por Deus como luz e sal.
Jesus é dia a dia. E onde estivermos e com quem estivermos Ele está conosco. Humildade diante de Deus e diante dos homens: blindagem certa contra o fanatismo.
Concordo com a descrição a cima. Soube definir bem um fanático religioso.
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