quarta-feira, 9 de junho de 2010

“Saudade do Galvão Bueno!”

Houve um ano em que o locutor esportivo da Globo Galvão Bueno foi escolhido o melhor locutor e, ao mesmo tempo, o pior locutor. É isso, Galvão é polêmico, ninguém fica indiferente a ele.
Muita gente não gosta dele, mas ninguém imagina vê um jogo da seleção brasileira sem sua narração. O que as pessoas não gostam são de seus comentários, às vezes sofríveis ao apontar insistentemente o erro de um jogador, seu ufanismo exacerbado, sua torcida declarada, suas invencionices tipo “deu um tapa na bola”, quando o jogador a chutou, sua indiferença às chamadas dos repórteres de campo, deixando-os esperar um pouco para saber quem manda no pedaço; suas disputas no ar com Arnaldo Cézar Coelho, provocando muitas vezes o velho árbitro...

Depois da Copa do Mundo de 82 na Espanha, Luciano do Valle, então narrador principal da TV Globo, partiu para um projeto pessoal na Band, antiga Bandeirantes, onde firmou, de vez, carreira, consagrando-se como uma das maiores vozes esportivas do País. Mas ao mesmo tempo que trilhou esse caminho, ficou um pouco esquecido da grande massa. Não porque passasse a fazer um trabalho menor, não fez. Mas por dois motivos cruciais: porque a Band não tinha a audiência da Globo e porque seu substituto foi o Galvão Bueno.

Diferentemente de Luciano, sóbrio e atendo-se apenas ao jogo, Galvão chegou com tudo narrando: torcendo apaixonadamente, não se restringindo apenas ao seu ofício de narrar o jogo, mas opinando com fôlego cada vez mais renovado, se esgoelando sem pudor, criticando, pegando no pé do juiz, lamentando abertamente uma jogada errada, enfim. Um torcedor com microfone na mão.

No princípio aquela voz meio indefinida precisou ser ouvida com mais atenção para poder se perceber seu valor. Todos estávamos acostumados com o vozeirão do Luciano do Valle. Como definir a voz do Galvão, então? Até hoje não sei definir aquela voz: grossa? Grave? Meio grave com tons nasalados? Não sei. O que sei é que Galvão Bueno assumiu o posto que antes era de Luciano do Vale e foi mais além do jogo em si: Galvão dá audiência. De qualquer jogo e também da Fórmula 1. Quando um jogo é narrado por ele é um jogo importante.
Muitos gostam de dizer que detestam o Galvão, chamam-no de burro, idiota e que é um chato. Chato? Às vezes, sem dúvida, mas burro e idiota? Pura maledicência e desejo insidioso de criticar. Quem nunca saiu do Brasil e assistiu a um jogo da Seleção na voz de um locutor estrangeiro não sabe o que fala quando diz não gostar do Galvão.

Em 2006, na Copa da Alemanha, minha namorada na época viajava pela Europa e assistiu dois jogos do Brasil quando passava pela Inglaterra e França. Reuniu-se com outros brasileiros num bar diante da tevê. Quando começou o jogo, nas duas ocasiões, ela ficou extremamente decepcionada com a narração dos locutores ingleses e franceses: morna, indiferente, com picos de frieza e totalmente desprovida de entusiasmo. O espetáculo ficou comprometido. Não havia clímax. O próprio gol era narrado com apatia, tanto do Brasil quanto do time adversário.
Quando voltou, ela me disse: “Germano, como eu senti saudade do Galvão Bueno! Me deu vontade até de escrever pra ele, pra Globo, pra dizer que ele é simplesmente o máximo! Sua força narrativa, sua alegria, sua torcida empolga a gente!”

Ela nunca escreveu para ele contando isso. Mas quem sabe um dia ele pode ler este artigo e receber o recado daquela minha ex-namorada de que jogos da Seleção com sua narrativa é um ingrediente a mais para torcer e vibrar. Sem duvida, não dá pra ficar indiferente ao ouvir aquele: “Olha o gol! Olha o gol! Olha o gol! Olha o gol!... Goooooooooooooooool!... É do Brasiiiiiiiiil!
Valeu, Galvão!

Um comentário: