quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Viagem ao Cariri – Impressões Parte 1



Foto: Com o lendário Seu Lunga em frente à sua loja de sucatas no Juazeiro.

No dia 9 de janeiro de 2011fui com amigos ao Cariri cearense. Ficaria uma semana. A viagem de carro durou sete horas, mas foi bastante agradável. Chegamos às duas da tarde e fomos almoçar no Coisas do Sertão, um restaurante de comida caipira delicioso. O self-service matuto era de dar água na boca.

Ficamos em Barbalha e passávamos o dia na região do Crajubar – Crato, Juazeiro e Barbalha. Ao contrário do que pensava, é uma região próspera e independente da capital. Um lugar muito bonito, rodeado da natureza viva do vale do Cariri e da Chapada do Araripe.

Das três a mais próspera é Juazeiro do Norte. É lá onde estão as grandes concessionárias: Kia, Peugeot, Honda, Yamaha, Mitsubishi entre outras. É lá onde está o único shopping da região, o Cariri Shopping, e outro já está a caminho. Também é lá onde fica o aeroporto, a única fábrica Singer do Brasil e a sede da TV Verdes Mares Cariri, além de bons restaurantes. Sem falar, é claro, do intenso comércio do Centro e das festas religiosas em volta da figura polêmica do Padre Cícero Romão Batista.

Barbalha é pequena e sua fama se dá pela festa do “Pau de Santo Antonio”. À noite tem um clima agradável e um ou outro barzinho interessante.

Crato é a que mais se parece com uma cidade, por ser compacta, ao contrário do Juazeiro, que é grande e espalhada. É uma cidade interessante. Tem a pecha de ser uma cidade mais intelectualizada. Lá, existe um bar desconcertante: Guanambara Nenem. É um bar aberto 24 horas. Agora pasme: durante mais de 52 anos! Eu me pergunto: Se hoje já é difícil ter um público que aflui numa cidade do interior, como seria há 52 anos?

Tomamos um caldo de carne lá. Embora não o tenha achado saboroso, reconheço que era muito forte e bom pra curar bebedeira. Dizem que é lá que tem o melhor filé a parmegiana do lugar, mas não provamos. O caldo encheu todo mundo.

Ainda no Crato, há um bar chamado “Pau D’Arco” que fica numa região elevada e tem uma bonita vista. As quintas têm uma noite romântica que é muito bom para ir a dois. Como estávamos em três amigos, tratamos de dar logo o fora dali. Mas recomendo.

Em Juazeiro, conhecemos o Seu Lunga, personagem de fama agora nacional pela sua braveza e mal humor. Há matérias de jornais, entrevistas, piadas, causos e cordéis sem fim sobre ele. Quando criança ele conheceu Padre Cícero. Chegamos até sua sucata, no centro de Juazeiro, para conhecê-lo. Ele não respondeu meu boa tarde e fez uma cara feia. De fato, o homem é mal encarado. Ficamos muito intimidados e decidimos ir embora, mas eu insisti e voltei. “Vamos ser destratados”, eu disse, “mas vamos falar com o homem”. Voltamos.

Dei um boa tarde enfático e desta vez ele respondeu. Falei que tínhamos vindo de Fortaleza para conhecê-lo.
- Por quê? – perguntou aborrecido.
- Porque o senhor é famoso – eu respondi – vi uma entrevista sua no jornal O Povo e queríamos conhecer o senhor. Eu poderia bater uma foto sua?
- Você trouxe o cacete? – indagou ele.
- Cacete, Seu Lunga? – respondi sem entender a pergunta.
- Sim – disse ele – você não quer bater? Então trouxe o cacete!
Percebi, realmente, que era um homem que se apega às palavras. Figuras de linguagem não são com ele. Ali me lembrei da recomendação de uma pessoa que disse que usasse o verbo fotografar, e não “bater foto”. Vê-se que para se aproximar do Seu Lunga existe toda uma ciência.
- Sim – eu disse, corrigindo – fotografar, posso?
Ele atendeu e se levantou. Me posicionei ao seu lado e um dos meus amigos bateu, ou melhor, me fotografou ao lado dele.
É claro que eu quis engatar um papo, mas o homem não demonstrava interesse e seguimos, satisfeitos, pela foto histórica ao lado de um personagem de cordel. Infelizmente, ele não nos permitiu conhecer o homem Joaquim dos Santos Rodrigues, de 82 anos, pai de 13 filhos e apreciador de versos, mas apenas o personagem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário