sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A revolucionária 1



Há alguns meses, cheguei à conclusão que minha vida não ia bem em alguns aspectos. E o que mais me atingia no momento era minha moradia: bem localizada, porém pequena, no térreo, quente e sitiada por uma reforma interminável do condomínio, que me atingia diretamente. Como vivia apático e desanimado nos últimos tempos, me acomodei à situação. No entanto, após uma pregação na igreja, onde o pastor dizia que Deus nos leva para lugares pequenos para estarmos prontos para ir aos grandes, decidi dar atenção àquela palavra.

Na verdade, eu tinha sede de horizonte! Então, comecei a pedir a Deus que me tirasse dali, mas não fazia nada para mudar a situação, o que não era bom. Contudo, continuei pedindo, pois me via apático demais para fazer qualquer coisa.

Então ela chegou. Sandra, minha irmã. De bem outro espírito, animada e cheia de entusiasmo. Viera me acompanhar durante quinze dias de pós-operatório, uma cirurgia de septo que eu faria em dois dias após sua chegada.

Ela chegou na segunda, na terça começou a falar comigo sobre eu mudar de apartamento, sem eu tocar previamente no assunto. Eu precisava ir para um lugar melhor, dizia. Faça o que você quiser, eu disse. E ela fez. Começou a mexer uma coisa aqui e a falar com alguém ali. Na quarta-feira me operei. Voltei pra casa no mesmo dia. Mas não podia baixar a cabeça nem fazer esforço durante muitos dias. E ali fiquei, deitado e pensando na vida.

Mas ela não estava deitada, mas correndo de um lado ao outro. De repente, outras pessoas da família apareceram, primas, primos, tios e tias e enviaram presentes e falaram amistosamente e um dia Sandra encontrou um novo apartamento. No mesmo prédio, lá em cima. E por um preço que cabia no bolso. Mas estava ocupado, porém até sexta-feira. Parecia combinado. Na sexta, os inquilinos saíram. Ela gostou do apartamento e perguntou o que eu achava. Faça o que achar melhor, continuei dizendo.

E ela fez. De repente, uma ligação de uma prima querida avisa que nossos tios estavam vendendo seu apartamento e não queriam mais a mobília. Sandra ligou para Portugal e pediu a mobília para mim. Dê tudo o que tiver dentro para ele, disseram os tios, menos a mesa.

Tudo?, sorri ouvindo minha irmã dar a boa notícia. Menos a mesa, lembrou ela. Mas eu disse: Não são eles que não estão dando a mesa, é o Senhor que não quer me dar por algum motivo. Vamos aguardar para saber qual.

No sábado, começou a mudança. Mudança é incêndio, disse Sandra passando, só não tem fogo! Pessoas indo e vindo e eu parado, dormindo, acordando sem conseguir ajudar em nada. Se tentava algo, o nariz sangrava e Sandra ralhava comigo. Tive de ficar quieto e aproveitei para refletir em tudo que estava acontecendo. Então lembrei da Palavra de Deus na Bíblia dizendo que o Senhor cumula de bens seu amigo enquanto este dorme. Poxa, sorri, então sou amigo mesmo de Deus?!

Às seis horas da tarde, fui avisado que podia subir. Peguei o retrato de minha mãe da parede e subi.

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